Não é nenhuma novidade nem surpresa a rapidez como as coisas acontecem na internet. Todos os dias, ao entrarmos nesse universo, somos tomados por informações e "febres" que se proliferam velozmente e depois acabam na mesma rapidez. Hoje é um dia em que uma simples foto causou furor no facebook. Me refiro a uma imagem do cantor Roberto Carlos vestindo bermuda e portanto, expondo a prótese que utiliza na perna direita, consequência de uma amputação causada por um acidente com um trem quando era menino.
Se observarmos esta imagem que publico aqui, veremos a quantidade absurda de mais de 3.000 compatilhamentos da foto somente nesta rede social. O que me motiva a escrever sobre isso no blog não é nehuma crítica ou julgamento pela euforia causada por uma simples imagem. É tentar refletir o porque disso acontecer. A deficiência de Roberto Carlos não é assunto novo, nem tampouco ele tenha tentado escondê-la durante toda sua carreira. Inclusive, eu admirava muito o fato dele ser o maior ídolo da música brasileira, tendo uma deficiência e não ser referenciado por isso. Ao contrário de outros tantos artistas e atletas que não conseguem largar este estigma da deficiência e superação. O simples fato de RC nunca ter mostrado as próteses me parece fato normal. Eu também não saio por aí com as canetinhas de fora e nem por isso é recalque, vergonha, complexo. O que aconteceu hoje mostra que ele poderia estar certo, porque as pessoas se ligam numa coisa sem sentido, jogaram a atenção toda para uma perna mecânica, fora os comentários ridículos, como este primeiro onde a fã diz "Tadinho.... amo ele!". Tadinho por que? Outra diz "que sirva de exemplo de superação" e por aí vai. Ele está superando o que ali?
Me pergunto constantemente: o que essas pessoas têm na cabeça? O que pensam? Qual a importância disso? Não são perguntas de revolta, viu? Quero deixar claro porque sei que sou brigão e às vezes o tom fica de briga, mas aqui é simplesmente não entender mesmo. Repito: qual a importância disso?
Ele deixou de ser o Rei? Suas músicas deixam de ter a importância que têm? Se cria uma fissura em sua imagem porque mostra uma prótese que todo mundo já sabia que existia? Há quem prefira acreditar que é uma foto fake. Para mim, pouco importa. Se é montagem, se não é... "se chorei ou se sorri"... se ele usa bermuda, calça, calção, cueca. Se alguém gosta de mulher ou homem. Se usa tatuagem, piercing, cabelo azul. Cada um é cada um e sosmos iguais justamente porque somos tão diferentes.
Tive o prazer de encontrar Christine Greiner no II Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Dança, da Escola de Dança da UFBa. Todos da área sabem da importância das pesquisas de Greiner para a Dança e é uma honra tê-la aqui.
Nosso encontro aconteceu, justamente, um dia antes do resultado da seleção do mestrado em que fui aprovado. Christine Greiner e Helena Katz desenvolveram a teoria "corpomidia" que trata da relação do corpo e ambiente, do corpo como midia de si mesmo. Assunto obrigatório para os estudantes-pesquisadores em Dança. Eu havia lido há pouco tempo seu livro "O Corpo, pistas para estudos indisciplinares", para as provas do mestrado.
Neste depoimento, ela fala sobre o que não consegue mudar, sobre quem fala sempre as mesmas coisas e sobre o corpo que chega e provoca alguma transformação. E tem tudo a ver com este meu momento. O mestrado será transformador, provocará enormes mudanças a partir das discussões e questões que surgirão durante todo o tempo em que estiver imerso nas pesquisas.
Meu projeto será sobre as políticas públicas para inclusão no campo da cultura e suas implicações nas práticas artíticas e no entendimento da Dança com pessoas com deficiência. Muito o que aprender, pesquisar, ler, trabalhar.
NAÇÕES UNIDAS - DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - 03 de Dezembro
Mensagem de Ban Ki-moon - Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas por ocasião do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência
Tema: "Juntos por um Mundo Melhor: Incluindo Pessoas com Deficiência no Desenvolvimento"
Tradução: Romeu Kazumi Sassaki
Passaram-se 30 anos após as Nações Unidas comemorarem pela primeira vez o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência, então focando o tema "Participação Plena e Igualdade". Durante este lapso, foram alcançados notáveis avanços na tarefa de divulgar os direitos das pessoas com deficiência e fortalecer o marco normativo internacional para a realização destes direitos, desde o Programa de Ação Mundial para as Pessoas Deficientes (1982) até a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006).
Cada vez mais países se comprometem a proteger e promover os direitos das pessoas com deficiência. Não obstante, muitas tarefas permanecem pendentes. As pessoas com deficiência apresentam os índices mais altos de pobreza e de privações; e a probabilidade de que não tenham atendimento médico é duas vezes maior. Os índices de emprego das pessoas com deficiência em alguns países chegam a apenas um terço dos da população geral. Nos países em desenvolvimento, a diferença entre os índices de frequência à escola primária das crianças com deficiência e os de outras crianças se situa entre 10% e 60%.
Essa exclusão multidimensional representa um altíssimo custo, não apenas para as pessoas com deficiência, mas também para toda a sociedade. Este ano, a celebração do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência nos relembra que o desenvolvimento só poderá ser duradouro se for equitativo, includente e acessível para todos. É, portanto, necessário que as pessoas com deficiência estejam incluídas em todas as etapas dos processos de desenvolvimento, desde o início até as etapas de supervisão e avaliação.Corrigir as atitudes negativas, a falta de serviços e o precário acesso a eles, e superar outros obstáculos sociais, econômicos e culturais, redundarão em benefício de toda a sociedade.
Neste Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, faço um apelo aos governos, à sociedade civil e à comunidade internacional para que trabalhem em benefício das pessoas com deficiência e colaborem com elas, lado a lado, a fim de alcançarem o desenvolvimento includente, sustentável e equitativo em todo o mundo.
A mestra, coreógrafa e dançarina Maria Duschenes foi discípula de Laban e uma das responsáveis pela difusão deste método no país. Húngara de nascimento, em 1940 veio ao Brasil fugindo da 2ª Guerra Mundial. Aos 22 anos adquiriu poliomielite que a deixou com sequelas. Com a limitação dos movimentos dedicou-se à coreografia e às aulas de dança a educadores, psicólogos, dançarinos, coreógrafos e atores.
Hoje, ao acordar, liguei a tv para espantar o sono. Recebi este presente da TV SESC que apresentava o documentário "Maria Duschenes, o Espaço do Movimento", de Inês Bogéa e Sergio Roizenblit.
Maria Duschenes
Por Inês Bogéa (in: Maria Duschenes - o Espaço do Movimento).
"Maria Duschenes pôs sua arte e suas idéias a serviço da dança do Brasil. Ela faz parte de uma turma de estrangeiros que chegou ao país no entre guerras, com idéias novas e informações para partilhar, gerando um movimento de transformação da dança local. "Com a dança a gente fala com o mundo", gostava de dizer.
Duschenes introduziu no Brasil os métodos de Emile Jaques Dalcroze (1865-1950) e Rudolf Laban (1879-1950), tecendo fios que adensaram o meio artístico, inter-relacionando as artes e acentuando sempre a ligação do corpo com o intelecto. A afirmação de uma técnica que coloca a dança à disposição de todos, o abandono de formas fixas e corpos padronizados, e o entendimento de que o corpo é fundamental nas atividades intelectuais fazem da presença de Duschenes um verdadeiro pólo transformador da dança paulista. Tudo isso feito singelamente, decantando o tempo da educação, à espera da resposta, do olhar, da cumplicidade e parceria do outro para se fortalecer no mundo.
Baseada no princípio holístico da unidade corpo/espírito, ela introduziu uma dimensão psicológica em suas técnicas somáticas. Como diz: "A dança em si, isoladamente, não é suficiente como fator de integração entre corpo e mente e recuperação da identidade, pois a linguagem não-verbal constitui só uma parte de nossas linguagens. Porém, ela serve de ponte de ligação, integrando os movimentos do corpo e sua linguagem às outras linguagens verbais, escritas, visuais, etc.".
Duschenes partilhava, com seus mestres, do conceito de que a dança não deveria ser propriamente um trabalho em busca de perfeição, mas sim uma interrogação do espaço, de sua estrutura e suas possibilidades. Relutava, assim, em produzir uma formalização marcada dos gestos, mais interessada nas diferenças e identidades que podem surgir de cada um. Para ela, a expressão corporal pode ser tanto um meio de preparação do corpo do artista cênico, ampliando sua capacidade de entendimento e expressão, quanto uma prática comum a todos, com a finalidade da percepção individual.
Uma grande professora, chamada carinhosamente por seus alunos, até hoje, de Dona Maria, procurou trabalhar com as pessoas por meio da dança e não apenas para a dança. Ou seja, dança e movimento como formas de reconhecer o espaço e de harmonizar a personalidade subjetiva interna e a personalidade externa, física. É uma relação que permeia a dança moderna praticamente como um todo: o corpo é um instrumento de expressão e se apresenta numa relação complexa entre interior e exterior.
A dança, dessa perspectiva, pode religar as pessoas, levando a uma integração do homem num sentido quase cósmico. Em suas palavras, "a dança tem uma qualidade primordial: ela é direta, obriga a um contato imediato, você trabalha e atua sobre o seu próprio corpo sem poder adiar nada. Não se pode ser preguiçoso, nem no corpo, nem nas idéias, quando se está dançando. É possível, por meio da dança, causar uma síntese, provocando uma experiência muito profunda em relação à vida".
Com sua doçura, contenção e senso de equilíbrio, Dona Maria resgatou para muitos certa qualidade de experiência corporal concreta, refinando as matrizes do gesto, resistindo às rupturas e descontinuidades entre os diferentes setores da vida. Deu corpo a muitas facetas da vida diária, ora acentuando o lado mais expansivo das relações, ora sublinhando o recolhimento necessário."
Dança Coral "... no Brasil segundo os preceitos que aprendeu com Laban em Dartington. Uma proposta democrática, que quer tornar a dança acessível a todos: "para participar de uma dança coral não é preciso ser bailarino e nem mesmo ter experiências anteriores disciplinadas. Cada participante contribui com suas próprias características. Mesmo se uma contribuição for limitada, ela é relevante para a composição de um todo. O resultado final será a combinação de todas as características individuais, num arranjo de possibilidades quase infinito. E, além disso, não é preciso que esse resultado chegue ao palco. A dança coral interessa, sobretudo, a quem a pratica constantemente".
Algumas danças corais foram marcantes na carreira da Dona Maria. Entre elas, O Navio da Noite (1989), realizado no Centro Cultural São Paulo como parte das comemorações de 110 anos de Laban, Origens I (1990), que reuniu 150 pessoas no palco do Teatro Municipal, e Origens II (1991), quando foi homenageada durante a 21a Bienal Internacional de São Paulo. Foram dois espetáculos, um infantil, com pelo menos cem crianças, e outro profissional, que aconteceram ao ar livre na instalação Slice of Earth de Denise Milan. Este evento foi concebido e organizado por Maria Mommensohn, Daraína (Tuca) Pregnolato, Renata Macedo Soares e Solange Arruda."
Vale a pena pesquisar, conhecer, saber mais sobre Dona Maria.