sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Conforto - entrevista (Fábio Menezes)

Fábio está aqui hoje porque ele fala sobre uma coisa que anda me perturbando muito ultimamente: não estar confortável com o corpo. Andamos tendo um estranhamento e achei super pertinente tudo que está sendo dito nesta entrevista. Fábio Menezes é um amigo delícia, sabe como é? Todo lindo, de sorriso e abraço fáceis, nos conhecemos quando ele fazia a preparação corporal de uma peça com meus textos no Rio. De lá para cá não perdemos mais o contato e nosso carinho só aumentou.
Adoro!

Deixo Fábio também para embelezar o fim de semana que estarei ausente. Energia boa sempre é bom!

Nunca mais é até quando?

Estou ainda e acho que vai demorar um pouco para me acostumar com a idéia do “sem excessos”. Muitos amigos me falam, no intuito de ajudar, que as coisas chegam para aprendermos, e foi assim que aconteceu para que eu aprendesse a ser comedido. Agradeço, finjo que concordo, mas acho uma baita de uma sacanagem da vida, de Deus, de sei lá o que, querer me controlar. Nunca me faço/fiz de coitadinho, até mesmo porque não sou, mas essa história de aprender com o sofrimento é de um ranço cristão desgraçado que nunca aceitei em mim.
Vamos do início.
Gostaria de entender quem fala isso para poder até mesmo eu me ajudar. Peguei uma Poliomielite quando tinha 1 ano de idade, fui uma criança que teve todo tipo de doença: sarampo, papeira, gripes constantes, asma, catapora etc etc etc, visitei muito hospital, fiz cirurgia de hérnia aos 5 anos, aos 8 estava longe dos meus operando no Sarah de Brasilia etc etc etc. O que mais eu devo aprender agora com esta diverticulite?
Pelo que me consta é o meu jeito alegre, exagerado, gargalhada farta, fanfarrão, bem humorado, engraçadinho o que junta pessoas ao meu redor, me faz ter muitos amigos. Por que então uma doença chega para me dizer que eu tenho que maneirar? Estou recebendo um castigo por ser assim? Não, não aceito isso como castigo e nem acho que vou aprender a ser comedido dessa forma. Não é isso que vai me controlar porque o exagero sou eu, a gargalhada é o que mais me traduz. Gargalhada aqui entendida como o auge do descontrole, o máximo da espontaneidade, o absurdo de achar graça de tudo, até mesmo das próprias desgraças.
Precisei desde pequeno a aprender a viver assim, a ser alegre, a ser forte, a vencer. Agora me vem uma rasteira dessa? Vá tomar no cu! No meu de preferência.
Quando choro porque não posso comer isso, não posso beber aquilo, não é por causa da comida ou bebida que choro, é pela mudança drástica de estilo de vida, é porque de agora em diante terei que ser moderado em todas as situações. Para qualquer outra pessoa pode parecer exagero meu, afinal não é tão grave assim. Conheço poucas pessoas que escolheram ou são do jeito que escolhi ser/sentir, sempre fui o último a ir para casa, sou daqueles que a saideira não acaba nunca, sou daqueles que chora por causa de um beija-flor e amo demasiadamente e sofro e rio e me acabo para no outro dia me reestabelecer.
Agora ta demorado, ta difícil levantar de manhã e pensar que se um dia Cléa vier de São Paulo eu não poderei chorar mais daquele jeito na sarjeta perto de casa, se eu for a Berlin com Tony nunca mais poderei amanhecer o dia no Roses e emendar com a cerveja na hora que acordar, nunca mais um Reveillon em Diogo dançando no chão com Mirella e B, saindo correndo de cadeirinha pro mar, nunca mais uma Parada com Ed em Buenos Aires, Lavagem aqui em casa com Priscila ou até mesmo simplesmente querer comer 2 acarajés e um abará de Ana como todo mundo mais quieto de Sto Amaro faz. Nunca mais véspera de lavagem amanhecendo em Itapema. Nunca mais carne de fumeiro de Makiba. Nunca mais dias seguidos em geraldo com Cate. Noites Pretas com Zunk.
Aí me pergunto. Nunca mais é até quando? Se é pra ser assim, tenho certeza que adiantarei bastante esse nunca mais, só espero que seja sem dor.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Trabalho retado



Tem trabalhos que, em determinados momentos, dão tanto trabalho que a gente as vezes fica pedindo para acabar, mas dão tanto prazer e satisfação que quando acabam a gente fica louco para voltar e morre de saudade, sente falta e o corpo fica no banzo da vontade de fazer mais.


Ontem recebi este vídeo de Drica Rocha que editou algumas fotos feitas por Alessandra Nohvais. Ficou lindo e deu para matar um pouquinho da saudade. Ainda mais com a trilha de Cássio Nobre!!!!

Hoje também recebi o envelope com as notas e cupons fiscais doados durante as apresentações dessa segunda temporada. Fiquei muito feliz com o resultado dessa nossa idéia em ajudar o Hospital Aristides Maltez. Arrecadamos 333 notas/cupons. Obrigado a todos que contribuíram.

O melhor do projeto O Corpo Perturbador é que fizemos mais coisas do que o planejado e alcançamos os objetivos muito facilmente, até ultrapassando as expectativas. Projeto bom retado!!!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O outro que se faz Deus - entrevista Paloma Gioli



Salvador está na lista das cidades mais violentas do país, algumas vezes ultrapassando o Rio de Janeiro e São Paulo em números de assassinatos. Paloma traz a idéia de corpo perturbador aquele que se julga superior e tira a vida do outro e não só tirar a vida, mas a violência psicológica, o medo que nos aterroriza no dia a dia, nos deixando num estado de atenção e estresse constantes. É assim que me sinto aqui.


Procurei nas entrevistas que ainda me restam sem publicar uma pessoa próxima que eu quisesse abraçar e ficar um pouquinho ali. Pá é uma amiga que eu adoro e tão carinhosa... Ela está aqui, agora, como uma homenagem pelo que fizemos juntos (Judite) e por todo amor que sinto por ela e nunca disse.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Re(d)ações à exclusão da mídia

Me senti na obrigação de tornar mais visível este comentário escrito por Albenísio Fonseca.

"O corpo pertubador" como case
de reação à exclusão na mídia

Edu O. tem razão. Todo artista sabe o quanto a divulgação é um quesito fundamental de toda e qualquer produção. Mas não é exclusividade da área cultural esse "descaso". O problema é que a montanha (quase) não se move. Lembro de produtores - não eram jornalistas - que diariamente iam (suponho que continuem indo) à redação de A Tarde, por exemplo, com os releases dos espetáculos (musical, teatral, exposições... o que fosse) em que estavam envolvidos, para garantir a divulgação.

No âmbito da política e manifestações populares (exceto quando põem fogo em ônibus e pneus, paralisam vias públicas) ocorre da mesma forma. Mas há tempo e espaço para muita abrobrinha, sim. Irrazoável e ab-surda-mente, sim. Desjornalisticamente, sim.

Com toda a disponibilidade e alcance da Internet (sites, blogs, redes sociais), considero esse tipo de busca de "espaço" nas mídias convencionais, hoje, menos importante que era há duas, três décadas. Mas é claro que não se deve descartar a inserção social amplificada (penso nas tevês) e o registro histórico (como é o caso dos jornais), como forma de informar e mobilizar público.

Mas é incrível, também, que não se busque, na "montagem" de um produto artístico, estabelecer relações com jornalistas. Os artistas para com os jornalistas da área cultural (e vice-versa): têm que ser mais articulados. Os produtores têm que enviar releases e convites, sim. Mas é phoda. Ultimamente, vejo "n" releases (e não são meus não) sendo apropriados (assinados) pelos coleguinhas das redações.

A montanha (quase) não se move. É Maomé quem tem de ir aonde a mídia está. Saculejá-la. Participei, ano passado, da iniciativa de Leonel Mattos em promover uma intervenção artística na Feira de São Joaquim. Dezenas de artistas baianos participaram com performances geniais. Uma intervenção no cotidiano da cidade. Agendei jornais, tevês. Reforcei no dia do evento. E nem uma linha, exceto na revista Lícia Fábio...
Tudo isso me fez lembrar a invasão da redação da Folha de S. Paulo, em meados dos anos 80, por José Roberto Aguillar e sua troupe. Subiram nas mesas, cantaram, pintaram e bordaram. Sugiro que os artistas baianos sigam o exemplo. Invadam as redações!! Essa sim é tarefa digna de um verdadeiro "Corpo Pertubador".

Re (d) ações.

Albenísio.

Ser político


Grata surpresa hoje receber pelo facebook o link deste site onde consta um comentário sobre O Corpo Perturbador. Não conheço o autor, mas agradeço pelo espaço.

O texto do post anterior deu o que falar, tivemos recorde de acesso ao blog, recebi algumas respostas de jornalistas e pessoas da área. Enfim, acho importante colocarmos nossas inquietações no mundo, levantar posicionamentos e abrir discussão. Meu intuito era esse.

Eu como artista e, por isso, ser político (acredito eu na arte como posição política) não me interessa projeção pessoal, divulgação de mim mesmo, mas me interessa muitíssimo ver o que eu e uma equipe de profissionais, porque um trabalho mesmo que seja um solo é fruto do trabalho e pesquisa de um grupo, possa despertar interesse e seja absorvido por um número cada vez maior de pessoas. Até mesmo porque a arte é mais importante e interessante do que quem a produz.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A gente só se "foge"

Preciso ter muito cuidado com o que vou escrever para não ser mal interpretado, para não parecer ressentimento de excluído ou ainda para não parecer arrogante. O que me faz escrever este texto é justamente o contrário. Pensei sobre isso durante toda temporada do meu espetáculo O Corpo Perturbador e escolhi publicar no final das apresentações porque precisava me certificar de que minhas impressões estavam certas. Aqui não vai nenhuma queixa em função de pouco público o que, aliás, não aconteceu. Nosso projeto previa uma platéia de no máximo 30 pessoas por apresentação e tivemos diariamente uma média superior a previsão, tendo dias de chegarmos a mais do que o triplo do planejado. Então não é mágoa de artista abandonado pelo público. Nem tampouco um criador em crise pela falta de compreensão de sua obra. Quem esteve presente ontem no ICBA percebeu através da fala das professoras Lúcia Matos, Fafá Daltro e Iara Cerqueira a abrangência do trabalho. Quem lê os comentários no blog e no facebook pode ter uma vaga idéia de como o espetáculo atingiu seu objetivo. O que quero escrever aqui é sobre o abandono da imprensa baiana. A mídia daqui mais uma vez negligencia os trabalhos produzidos pelos pequenos artistas locais. Nenhum jornalista teve a mínima curiosidade em conhecer a proposta que trazia um tema diferenciado, inédito e relevante na cena contemporânea. Não sou eu quem fala essas palavras, repito apenas o que escutei ao longo das apresentações.
Mandamos release para todos os meios de comunicação e apenas Rita Batista, no seu programa Boa Tarde Bahia da Band, nos cedeu espaço na primeira temporada para uma entrevista. O resto foi apenas inclusão na agenda do final de semana dos jornais impressos com Ctrl+C e Ctrl+V do resumo que mandávamos. O que mais me incomoda é ver a mídia valorizar assuntos que, ao meu ver, não são tão importantes assim e ocupam um tempo enorme dos telejornais e programas. Pode ser que o que nós queremos falar também não seja tão importante quanto eu penso, mas se é por “desimportância” por que não dar um pequenino espaço para produções locais independetes?
Acho importante falar da questão da produção independente porque quando este mesmo artista participa de um evento produzido por algum teatro ou produtor maior, a mídia escancara os dentes e abre suas portas. Foi assim com meus outros dois espetáculos Judite quer chorar, mas não consegue! e Odete, traga meus mortos, quando participei do Festival Vivadança produzido pelo Teatro Vila Velha. Estive em todos os programas locais e em matérias de jornal. Lógico que um festival desse porte deve ter um espaço enorme nas grades dos programas e nas pautas dos jornais. O que questiono também é por que não ceder espaço para aqueles que não tem como pagar assessoria de imprensa? Que não tem conhecidos entre os profissionais de jornalismo? Por que não se interessar pelo que é produzido na cidade?
Hoje o Bahia Meio Dia da TV Bahia gastou minutos preciosos com o povo cantando Dar uma fugidinha na porta do ensaio da Timbalada. Depois mais outros longos minutos com o cantor Michel Teló cantando suas preciosidades. Mais uma vez acho que não é preciso excluir nada das pautas, até mesmo porque interessa ao povo, mas porque não dar oportunidade a este mesmo povo de ter acesso a coisas diferentes? Ele poder optar e ser responsável por seu próprio gosto? Na terra do Axé se produz cultura de qualidade, dança, teatro, performance, artes plásticas, audiovisual. Temos uma diversidade de corpos e cores e sons e gente. Fico muito triste pela invisibilidade dos artistas daqui. Vejo amigos (até mesmo da música) sofrerem de abandono pela imprensa porque aquele trabalho, supostamente, não interessa e não renderá o lucro esperado. Friso a música porque teoricamente é a área queridinha da mídia.
Compreendo que há falta de informação da maioria dos jornalistas, da preguiça em ser desafiado com assuntos que lhe fogem o domínio, da burrice instalada pela cultura do axé, da importância do lucro fácil, vejo como são rasas as matérias que não se aprofundam no assunto, percebemos a supervalorização do escândalo e das aberrações, mas penso que passou da hora de repensarmos essa carnavalização toda, porque o bicho está pegando na Cidade d’Oxum e pelo andar da carruagem o “jeito é dar uma fugidinha”, e desse jeito a gente só se “foge”.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Canto de Xangô



Eu vim de bem longe, eu vim, nem sei mais de onde é que eu vim


Sou filho de rei muito lutei pra ser o que eu sou

Eu sou negro de cor mas tudo é só amor em mim

Tudo é só amor, para mim

Xangô Agodô

Hoje é tempo de amor

Hoje é tempo de dor, em mim

Xangô Agodô

Salve , Xangô, meu Rei Senhor

Salve meu Orixá

Tem sete cores sua cor

sete dias para a gente amar

Salve Xangô, meu Rei Senhor

Salve meu Orixá

Tem sete cores sua cor

sete dias para a gente amar

Mas amar é sofrer

Mas amar é morrer de dor

Xangô, meu Senhor, saravá!

Me faça sofrer

Ah me faça morrer

Mas me faça morrer de amar

Xangô, meu Senhor, saravá!


Xangô agodô

(Baden Powell e Vinícius de Moraes)

Melhor impossível

Ainda sob efeito da maravilha que foi a última apresentação. ICBA cheio, público atento, Papo Perturbador excelente. Lúcia, Fafá e Iarinha arrasaram na fala. Enfim... hoje só tenho a agradecer por tudo que foi este projeto, pelo amadurecimento profissional que influencia diretamente no pessoal, agradecer pelos encontros, pelo público ter compreendido a proposta e acolhido tão bem o trabalho. Agradecer a Aleixo pelo espaço sempre aberto. Agradecer, agradecer, agradecer eternamente a minha equipe de trabalho que chegou junto todas as vezes e é responsável pelo sucesso que adquirimos.

Tenho uma queixa em especial a fazer, mas isso deixo para depois, hoje é só comemoração!

EVOÉ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Resíduo

Carlos Drummond de Andrade
 
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato

Canção amiga

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Vai, mas volta!

Tem dias que a gente perde a noção do que aconteceu, né? Hoje foi assim. Fiquei completamente dentro do espetáculo, concentradíssimo, que juro, nem sei como foi. Que loucura é essa? Saí esgotado, cansadíssimo. O Papo Perturbador com Paula Karyza foi uma delícia. Ela trouxe muito conteúdo, falou coisas muito importantes que clarearam a pesquisa. Trouxe referências importantes de Freud, Françoise Dolto. Enfim... Mais um objetivo alcançado. Obrigado a paula pela disponibilidade, pela companhia.

Amanhã será nosso último dia da temporada apoiada pela FUNCEB, através do Edital Yanka Rudzka 2009. É difícil acabar um processo desses onde a gente conquistou amizades, me distanciar dos parceiros será doído, mas tenho certeza que o projeto continuará ainda por outras bandas e estaremos juntos. Diane se ausentará um pouquinho, vai pra longe, mas volta e espero que passe rápido o tempo dela longe de nós.

Amanhã teremos a companhia de Fafá, Iara e Lúcia fazendo o FECHAMENTO DO CORPO. Um papo informal, rapidinho, em clima de comemoração pelo sucesso que foi o projeto. Alcançamos tudo que planejamos. EVOÉ!!!!!!

Um agradecimento especial hoje a Aleixo pela simpatia e abertura do espaço.

O melhor é saber que o blog continua e que podemos nos perturbar juntos ainda por aqui.

Amante da Algazarra

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

Waly Salomão

Sobre o DESEJO

Hoje será uma delícia a apresentação, na verdade o depois da apresentação será mais delícia ainda porque falaremos sobre DESEJO e também sobre os devotees com a psicanalista em formação Paula Karyza.

Véspera do último dia da temporada, vai dando um aperto, uma incerteza do que acontecerá com este projeto que foi tão impactante e forte para quem fez e assistiu. Vontade de prolongar, de guardá-lo um pouco mais.

Desejo todo mundo lá!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Falta de controle e o futuro - Zeza Barral (entrevista)

ilustração do livro Judite quer chorar, mas não consegue! feita por Zeza

Hoje a apresentação foi a mais complicada para mim. Aconteceu uma situação que fugia do nosso controle e ficamos de mãos atadas sem ter o que fazer a não ser esperar. Assim como Zeza fala na entrevista, eu também me perturbo com a falta de controle das coisas, da vida. Isso me tira do sério, me deixa num estado completamente perturbado.

A morte, o futuro, o outro.....

Preciso aprender a não querer segurar o rio e me exigir apenas o que me é possível.

Zeza é uma amiga daquelas que a gente não se vê muito, nunca saiu junto, não fofoca nem confidencia nada da vida, porque é assim mesmo. É uma amizade construída com a profundidade de um clown. Quem fez clown entende do que estou falando. E eu adoro quando encontro com ela, adoro as ilustrações que fez para o livro de Judite, adoro seu sorriso e tenho a maior alegria de um dia ter encontrado na vida uma pessoa leve e linda como Zeza.

Odete entrando na bricadeira

Hoje a minha dança vai para um amigo que se foi prematuramente. A morte é algo que perturba todo mundo. Perder uma pessoa tão jovem, alegre, um amigo querido. O primeiro que se foi. É difícil, viu?

Aqui é o espaço d'O Corpo Perturbador, mas Odete resolveu aparecer de forma sem graça trazendo notícia ruim.

Na boca do povo









O Corpo Perturbador está na boca do povo!
Esses blogs e sites amigos, sempre apoiando meus trabalhos.
O twitter está bombando com os amigos dando RT.
A querida Rita Batista falou hoje no Boa Tarde Bahia.
Saiu também na agenda d'A Tarde

Obrigado a todos! Vamos que vamos!!!

Por que ir assistir a O Corpo Perturbador

Por Carollini Assis

Antes de ler sobre O Corpo Perturbador, pois pretendia ir assistir ao espetáculo, eu não sabia da existência dos devotees, pessoas que sentem atração sexual por outras com deficiência. Sequer da dos pretenders, que além de serem devotees, fingem ser deficientes. E dos wannabes, devotees que querem tornar-se deficientes. O Corpo Perturbador já enriqueceu minha visão de mundo antes mesmo de sentir o impacto do espetáculo no palco.

Chovia. Chovia muito. Duvidei que fosse ter o espetáculo. Tomava um capuccino enquanto esperava o anúncio por parte da produção. Não havia cobertura para o cenário, mas para o público sim. De repente, os olhos da amiga ao meu lado tem o foco de atenção mudado. E ao menear minha cabeça, eis que vem ele, Edu O., pelo chão vem trazendo o universo de movimentos do corpo, do olhar. Do outro lado, eis que surge Meia Lua já quase no cenário. Quando vi tamanha integridade, força e determinação, quando vi as gotas d´água caírem sobre as cabeças daqueles meninos diante dos olhos atentos de um público que é encanto e inquisição, emocionei-me. Atuar e dançar na chuva é para quem tem total domínio sobre seu trabalho, sensibilidade, é para quem sabe que água é benção, Oxum.

O corpo com deficiência se mostra pleno numa cama de gato que nos inquieta, agiganta e questiona. Delicadeza e testosterona, sussuros, ruídos, sonoridades nascidas de um trabalho de pesquisa que, chicotada de sutileza, sufoca nosso grito, torna-o oculto, prende nosso olhar, torna-o devoto das nuances coreográficas por vezes lancinantes, por vezes delicada e poética.

A rejeição do entrelaçar de pernas, entre Edu Oliveira e Meia Lua, é uma cena que nos convida a questionar o amor, a rejeição, a insistência, a busca sem fim do outro no nosso próprio eu. Desfila-se um comprimir dos corpos na teia dos quereres e quem pensa que a estética do corpo disforme vai atrair seu olhar, sequer imagina que o baile dos corpos encontraram o caminho de infinitas possibilidades, não mais o procuram.

Não sou crítica, nem tenho conhecimentos para tal. Sinceramente descrevo as emoções que me deixaram desconcertada após o espetáculo. Perturbada.

Viva quem faz e acontece na Bahia! Prolongados aplausos para os meninos que fizeram a dança dos corpos na chuva.

O Corpo Pertubador
20 a 23 de janeiro
Pátio do ICBA - entrada franca
17h30

Vencedor do Edital Yanka Rudzka de Apoio á montagem de espetáculos de dança

Foto Alessandra Nohvais

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Vai Desabar Água



Essa música é o máximo! Hoje ela faz todo sentido em estar aqui
Vai desabar água
Composição: Gero Camilo

Vai desabar água
Algodão vai,
Desabar água
Pra lavar o que tem que limpar
Pra lavar o que tem
Vai desabar água e é pro nosso bem

Depois quando o sol quarar
Será hora de estender nos varais
Os poemas que os lençois suados escreveram um dia atrás

Vai desabar água
Algodão vai,
Desabar água
Pra lavar o que tem que limpar
Pra lavar o que tem
Vai desabar água e é pro nosso bem

Depois quando o sol quarar
Será hora de estender nos varais
Os poemas que os lençois suados escreveram um dia atrás

Embaixo d'água

Hoje nada adiantou os bonequinhos de chuva de minha mãe. Eles que sempre resolvem a questão, não funcionaram. São Pedro resolveu despencar um toró justamente na nossa entrada em cena.  Catarina, produtora, chegou preocupada perguntando se faríamos o espetáculo. para mim não houve um minuto em que eu pensasse em desistir, adiar o espetáculo. Eu e Meia Lua estávamos firmes de que entraríamos em cena. E foi lindo! Duas crianças brincando na chuva.

O ICBA cheio, nós dois com uma força imensa sendo lavados por aquele aguaceiro que insistiu em cair durante toda a apresentação. Tudo foi inspirador e emocionante. Os aplausos muitos e demorados me levaram as lágrimas. Deu tempo de pensar em tudo que passei e agradecer intimamente por estar ali novamente. Agradecer a paciência dos meus companheiros de trabalho, esperando eu me recuperar para voltar ao trabalho, ao público que esteve na semana que cancelamos e voltou. Agradecer a vida por me deixar firme e forte.

Lembrei que o início das pesquisas para o espetáculo foi lá em Itacaré, embaixo d'água. Acho que estamos voltando agora de onde nascemos. Um ciclo fechando de forma linda.

Foto André Baliu

Ensaio



Fotos de Diane Portella

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Início do fim de uma etapa

Foto de Diane Portella trabalhada por mim

Relembrando tudo o que aconteceu nesse processo lindo que foi O Corpo Perturbador, fico emocionado ao ver materializado um sonho. Um sonho dividido e sonhado com tanta gente. De perto, de longe...

Amanhã começa o final dessa etapa tão importante que a conclusão do projeto inscrito no Edital Yanka Rudzka 2009. A partir de domingo é esperar que o espetáculo tenha vida própria e saia voando e conquistando vitórias e platéias.

Tudo, tudo, tudo valeu a pena. Apesar de ter sido o processo mais doloroso, mas inquietante, mais perturbador (como não poderia deixar de ser), me sinto satisfeito e feliz.

EVOÉ! EVOÉ! EVOÉ!

Espero todo mundo lá compartilhando esse momento de amadurecimento tanto profissional quanto pessoal.

Não se atravessa o mesmo rio duas vezes. Não serei nunca mais o mesmo!

Foto Diane Portella

O medo e o futuro - Clara Paixão (entrevista)



A entrevista de hoje é com Clara Paixão porque neste meu momento o que mais me perturba é o medo e também o futuro. Este é uma eterna negociação com o presente.
Sua fala representa exatamente o meu agora.
Essa menina é de uma beleza desconcertante, assisti no Teatro XVIII o espetáculo A comida de Nzinga e ela arrasava. Dominava o palco e só dava Clara, rainha, como o papel exigia.
Saibam mais sobre Clara no blog: http://clarapaixao.blogspot.com/

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quarteto bom de Papo

Clique na foto para ampliar

No post anterior eu havia dito que aguardava mais um sim para completar o querteto de convidadas. Pois bem, a professora Lúcia Matos confirmou sua presença no domingo ao lado de Fafá Daltro e Iara Cerqueira para fazerem o FECHAMENTO DO CORPO. A idéia para este dia é aproveitar que as três conhecem meu trabalho há muito tempo e dialoguem sobre os aspectos comuns e diferentes entre minhas obras,  trazendo Judite e Odete como referência, enfocando sobretudo os aspectos deste novo projeto que encerra esta etapa do Edital Yanka Rudzka 2009, no domingo dia 23/01, quando realizaremos também o último Papo Perturbador.

Fafá contrbuiu com O Corpo Perturbador desde a escrita do projeto, passando por ensaios e apresentações. Somos parceiros no Grupo X de Improvisação em Dança e sua pesquisa é voltada para as questões de acessibilidade das pessoas com deficiência em cena, sobretudo na dança.

Iara também é dançarina do Grupo X de Improvisação em Dança, portanto tem contato com meu corpo e suas possibilidades, esteve presente em todos os meus trabalhos e poderá trazer sua experiência junto ao Grupo His Contemporâneo para enriquecer a análise sobre O Corpo Perturbador.

Lúcia é uma das grandes incentivadoras do meu trabalho e compartilhará conosco sua visão sobre o espetáculo que ela acabará de assistir, já que preferimos que seja assim, acabou de ver, fala, aproveitando o calor das sensações e sentimentos que possam aflorar com o espetáculo. Lúcia Matos é Professor Adjunto da Escola de Dança da UFBA. Doutora em Artes Cênicas. Mestre em Educação/UFBA. Licenciada em Dança/UFBA. Representante do Nordeste no Colegiado Setorial de Dança da FUNARTE/ MINC (2004-2009).

Paula Karyza, estudante de psicologia, a convidada do dia 22 de Janeiro (sábado) conversará sobre o Desejo e sobre o trabalho que está desenvolvendo inspirada pela pesquisa d'O Corpo Perturbador. A sexualidade no corpo com deficiência é tema de seu interesse e também sobre isso iremos falar na penúltima apresentação no ICBA.

Vale lembrar que esta curta temporada vai de 20 a 23 de Janeiro (Quinta a Domingo), as 17h:30min, no Pátio do ICBA (Corredor da Vitória-Salvador), Grátis. Estamos pedindo que o público leve notas e cupons fiscais em benefício do Hospital Aristides Maltez.

Aguardamos todos lá.

Papos Perturbadores

O final de semana será uma festa, já estão confirmadas três convidadas para os Papos Perturbadores nos últimos dias da temporada do espetáculo o Corpo Perturbador que estará em cartaz de 20 a 23 de janeiro (quinta a domingo), as 17:30h, no Pátio do ICBA, grátis.

O Papo Perturbador é uma conversa informal junto ao público, onde refletimos sobre assuntos ligados ao processo de criação do espetáculo. Realizamos dois papos nos meses que antecederam as apresentações e que serviram de suporte para a pesquisa. Agora realizaremos mais dois, analisando a obra a partir dos assuntos abordados.

Dia 22/01 (sábado) a convidada para o Papo Perturbador é Paula Karyza Lima Figuerêdo, Psicóloga em formação na Faculdade Social da Bahia, especialista em Psicanálise Clínica pelo INEP/Itamaraty desde 2007. Neste dia o tema será O DESEJO. Relacionado a temática do espetáculo, aos devotees e a sexualidade no corpo com deficiência.

No dia 23/01 (domingo) as convidadas são: Iara Cerqueira (
Mestre em Dança pelo PGDANCA/UFBA. especialista em Fisiologia do Exercício (UNEB/BA) diretora e coreógrafa do Grupo HIS-Contemporâneo) e Fafá Daltro (Doutora em Comunicação e Semiótica, PUC - São Paulo e Escola de Dança da UFBA. Coreógrafa e diretora do Grupo X de Improvisação em Dança). Iara e Fafá farão uma análise do espetáculo a partir dos seus estudos, relacionando também com meus outros trabalhos, Judite quer chorar, mas não consegue! e Odete, traga meus mortos.

Minha vida em cor de rosa



Minha Vida em Cor-de-Rosa, de Alain Berliner, conta as desventuras do garoto Ludovic (o ótimo Georges du Fresne). Ele cresce imaginando que nasceu no corpo errado: na verdade, acredita ser uma menina. Logo na primeira sequência, aparece em uma festinha promovida pelos pais para atrair a nova vizinhança em um lindo vestidinho. A impressão e o mal-estar não saem das cabecinhas dos vizinhos, que começam a pressionar e ridicularizar o garoto.

A rejeição se estende aos pais, aos colegas e a qualquer um que se aproxime de um sintoma de homossexualidade tão latente. Ludovic refugia-se do tormento em um mundo róseo, onde só cabem a boneca Pam, uma Barbie espevitada, e o apoio afetivo da avó (Helene Vincent).

Título Original: Ma Vie en Rose

País de Origem: Bélgica/França/Inglaterra
Ano: 1997
Duração: 110min
Diretor: Alain Berliner
Elenco: Michele Laroque, Georges Du Fresne e Jean-Philippe Ecoffey

Fonte: http://www.terra.com.br/cinema/drama/rosa.htm



Este é o filme que me vem a cabeça sempre que a conversa chega em predileções. Impressionante como a história do menino Ludovic me tocou. Sempre procuro em locadoras, mas aqui em Salvador é muito difícil encontrar filmes como este que não entraram em circuito comercial. Assisti há muito tempo no Cine do Museu - Sala de Arte. Se alguém souber onde posso comprar me avise, por favor.

Esta semana assisti a um video sobre famílias americanas que vivem a mesma situação da película e me emocionei com algumas histórias vividas por aquelas crianças e seus pais. Este assunto tem tudo a ver com o blog, já foi assunto de entrevista e por isso trouxe novamente para levantar curiosidade e reflexão. Não estou bom de palavras hoje, por isso prefiro deixá-los com os videos, que na verdade é o que interessa. Minha opinião é pequena diante de um assunto tão vasto, rico e importante num mundo cada vez menos tolerante e massificador.

O tema vem chegando a mim há alguns dias, quando vi também a história da transexual Lea T, modelo brasileira que vem fazendo sucesso na Europa, filha do jogador de futebol Toninho Cerezo. Fiquei imaginando o sofrimento de ambos. Lea T pela necessidade de respeito e aceitação a sua condição, a sua realidade e a do pai por conviver num ambiente tão machista e hipócrita quanto o futebol, porque sabemos de casos que acontecem ali por dentro dos vestiários, né? Segundo informações da internet, o pai ainda não aceita a condição da filha. Linda por sinal!

Sobre como compreendeu que Leandro não poderia continuar vivendo “como homem”, a modelo afirmou que nunca teve um ideal masculino com o qual se identificava. “Eu cresci em um ambiente muito feminino. Meu pai estava longe: eu vivia em osmose com a minha mãe, minhas irmãs. Nunca tive um ideal masculino com o qual me identificar”, disse. “Quando meu pai vinha para casa e me observava, dizia que não estava certa. Com o passar dos anos começaram a rezar para que eu fosse gay. Teria sido mais fácil, o menor dos males.”


Sobre a mudança de sexo, Lea T diz que predende fazer a cirurgia, mas sabe que não será uma mulher completa. “Já ouvi mil vezes trans dizerem: ‘Com a operação finalmente me tornarei mulher’. Eu não penso assim, sou realista. Sei que terei uma vagina reconstruída, que não é um verdadeira vagina, sei que provavelmente não viverei a experiência do prazer feminino, sei que nos documentos serei uma mulher e isso facilitará a minha vida, ou pelo menos assim espero. A escolha é entre ser infeliz para sempre ou tentar ser feliz.”


Lea T

Abaixo coloco a primeira parte do video Meu eu secreto, aquele que mostra as famílias americanas que falei anteriormente. Vale muito a pena ver.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O filho que eu tive

Saí de casa com muita alegria pelo retorno às atividades do espetáculo. Fui ao ensaio com o coração pulando de ansiedade pelo reencontro com o pessoal. Rever Diane, Lorena, Cássio, Meia Lua. Chegar ao ICBA e reviver tudo que aconteceu ali. A mágica de estar em cena e tudo acontecer e coisas imprevistas surpreenderem com tanta beleza. Pensar no que vai acontecer. Ter receio pelo que me aconteceu recentemente e medo de que haja uma recaída. Não. isso não acontecerá porque já tomei as rédeas e agora é minha cabeça quem manda no meu corpo.

CURA!

Começamos o ensaio com receio e vendo possibilidades de manter a energia das cenas, mas de forma que não sacrifique meu corpo, que ele se sinta cuidado e não me apronte mais nenhuma surpresa sem graça. O aquecimento e a energia de Di. O abraço tão afetuoso de lore. O olhar e sorriso que sustenta de Cássio e todo o carinho e atenção de Meia Lua, me comoveram.

O Corpo Perturbador é o meu primeiro filho, gênero masculino, talvez por isso tenha sido tão difícil nossa relação. Pais e filhos sempre se estranham, né? Estamos em fase de adaptações e ele tem se mostrado mais maleável e no fundo já me encheu de alegria com as conquistas que teve desde a gestação.

Suas irmãs são as menininhas dos sonhos de qualquer pai. Judite é mais dengosa, exige um cuidado especial porque parece frágil, mas é muito carinhosa comigo e já me levou pelo mundo. Odete, dos três herdeiros, é a mais independente e quem mais soube cuidar de mim. Grandiosa!

Que loucura ter uma relação assim com seus projetos, mas sinto desta forma. Sei que a família crescerá muito ainda, mas este filhote caçula já demonstrou sua personalidade forte e tentou me domar. Não permitirei mais, não lhe darei ousadia.

Quinta-feira estaremos brincando no Pátio do Icba e sorrindo de tudo que aconteceu juntos.

Foto Alessandra Nohvais

Fotos da estréia (Dezembro 2010)

Alessandra Nohvais é a fotógrafa oficial dos meus trabalhos. Amiga desde a época da Escola de Belas Artes (haja tempo!), é uma profissional que admiro demais pela sensibilidade do seu olhar e pelas imagens maravilhosas que só melhoram nosso trabalho. Tem se destacado bastante na fotografia de espetáculos e é sempre cogitada por profissionais de dança, música e teatro. Aqui algumas fotos da estréia d'O Corpo Perturbador, para deixar um gostinho e vocês irem conferir de perto na quinta-feira (20/01), as 17:30h, no ICBA, GRÁTIS. Lembrando que nossa temporada fica pouquinho, somente até dia 23/01.







quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Coisas que me perturbam

Coisa que me perturba é não ter domínio sobre minhas coisas. Meu corpo (falamos como se o corpo não fosse nós mesmos) deu de aprontar comigo. Inventou dor, provocou internação, alimentou angústia e tratou de me alucinar com restrições.

Coisa que me perturba é dono de cachorro que é mais chato do que o animal.

Coisa que me perturba é acordar ainda com sono.

Coisa que me perturba ouvir Elza Soares e Mônica Salmaso. Los Hermanos e Chico.

O que me perturba é brincar e ouvir as coisas de meu sobrinho

Coisa que me perturba é o corpo de quem amo e seu cuidado

O que me perturba é presença deliciosa de minha amiga aqui em casa

O que me perturba é minha mãe e seu afeto

O que me perturba é o amor de minha irmã

O que me perturba é não estar em Santo Amaro e esta cidade não ser mais a que eu guardo em mim, embora seja nela onde me sinta em casa

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A ausência - Cathy Pollini (entrevista)



Cathy Pollini é coreógrafa/dançarina, uma figura que conheci através da dança e nos tornamos amigos. Participei de seu Projeto do Ar idealizado com seu marido Guillaume Lauruol, nas etapas de Itacaré (onde foi realizada esta entrevista) e também em Salvador. Estamos aguardando aprovação para um outro projeto em 2011. Tomara que dê certo porque esta dupla é massa! Na época do trabalho ela estava grávida, linda. Agora tem Elma mais linda ainda ao seu lado.

Nessa entrevista Cathy nos traz a questão do "não ser", aquela pessoa que não é, não se faz presente, não se revela. Isso a perturba. Para mim isto está muito ligado a questão da verdade, você SER de verdade, não importa o que, mas seja.

Confirmação da segunda temporada

O ano já começou bombando. Me recuperei da diverticulite, este final de semana fui Rei na Festa de Reis de Dona Canô, me preparando para viajar a Londres para trabalhar com o Candoco e agora confirmadíssimo o retorno d'O Corpo Perturbador de 20 a 23 de Janeiro, as 17:30h, no Pátio do ICBA (Corredor da Vitória-SSA).

Aguardamos todo mundo que deixou para nos ver na segunda semana. Aquela que tivemos que cancelar por causa de meu problema de saúde. Agora já recuperado, vamos que vamos.

Desculpas pelos transtornos aos que compareceram no ICBA sem saber do cancelamento do espetáculo.

Eu de Rei Mago na festa de Dona Canô. Foto de Flávia Motta

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O mau humor - Maria Drakeford (entrevista)



Tudo é a forma como lidamos com as coisas, né? Sou muito impaciente, pavio curto, brigão, mas lido com as coisas (na maioria das vezes) com um certo humor. Rio das minhas próprias desgraçadas. Tenho uma turminha que nossa "terapia" é de choque, nos juntamos e ficamos fazendo graça com os nossos dramas. Quem começa é a própria pessoa sofrida. E assim vamos analisando os fatos, compreendendo os sentimentos, a situação compartilhando com o outro, sem jamais desrespeitar ou diminuir o sofrimento. Não é isso, muito pelo contrário, é justamente por dividirmos o sofrimento do amigo que conseguimos achar um jeito de fazê-lo rir daquilo.

Há momento em que é impossível não pensar na miséria em que vivemos, na falta de perspectiva, na desigualdade, enfim, em todas as mazelas que se afundam cada vez mais na nossa sociedade, mas não se conseguirmos tirar o peso do que pressiona nossas costas, a vida realmente ficará insustentável.

Maria é uma amiga muito especial de minha mãe e fala sobre a importância do humor em nossas vidas.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Temporada para Hospital Aristides Maltez

Estamos nos preparativos para a nova temporada (curta) do espetáculo O Corpo Perturbador com data ainda sendo definida. Diante do sucesso da primeira semana de apresentações, da receptividade do público, estamos ansiosos para voltar em cartaz e concluir esta primeira etapa. Fico muito feliz porque já começamos a receber convites para outras apresentações, até mesmo no exterior. Espero que tudo dê certo.

Como todos sabem as apresentações são gratuitas, então uma prima me sugeriu que eu pedisse notas fiscais para ajudar ao Hospital Aristides Maltez que cuida de crianças com câncer. Fiquei animado com a possibilidade em também contribuir uma causa tão importante pedindo tão pouco. Lógico que não é obrigatório a entrega das notas, mas gostaria de fazer esta temporada pedindo ao meu público que leve quantas notas fiscais puder, entregando na entrada do teatro.

A Liga Bahiana Contra o Câncer foi idealizada pelo Prof. Aristides Maltez, visando à criação de um Instituto de Câncer, para a Bahia, o qual veio, em 1943, por ocasião do falecimento do Prof. Aristides Maltez, a ser denominado Hospital Aristides Maltez, em homenagem a seu idealizador.

Desde o início da fundação da Liga Bahiana Contra o Câncer, sempre teve o Prof. Aristides Maltez a preocupação do atendimento à população carente, o que bem expressou na frase pronunciada na sessão de instalação: “Essa é a Lâmpada da caridade que jamais se apagará no coração dos meus seguidores”, reiterada, em outubro de 1940, quando foi lançada a pedra fundamental do Instituto de Câncer da Bahia, com a frase: “A semente de carvalho está lançada. A sua sombra não será, porém, mais para min; servirá, sim, para dar abrigo aos cancerosos pobres da Bahia”.


Mais informações: http://www.lbcc.org.br/compos.php?m=site.home

Abaixo publico ainda outras possibilidades de contribuição para o hospital:

NOTAS E CUPONS FISCAIS

Para contribuir com a campanha “Sua Nota é um Show de Solidariedade”, basta depositar notas ou cupons fiscais nas urnas dos supermercados, farmácias e outros estabelecimentos comerciais de toda a cidade. Cada quadrimestre corresponde a uma etapa (por exemplo, de janeiro a abril; de maio a agosto...).


DEPÓSITOS BANCÁRIOS
§ Caixa Econômica Federal (AG: 1236/Conta Corrente: 1477-0/OP: 003)§ Caixa Econômica Federal (AG: 1236/Conta Corrente: 11000-1/OP: 003)§ Banco do Brasil (AG: 3025-2 / Conta Corrente: 9892-2)§ Banco do Brasil (AG: 3025-2/Conta Corrente:126578-4)§ Bradesco (AG: 0662-9 / Conta Corrente: 18370-9)
 
 

DÉBITO EM CONTA

Para aderir à campanha “Sociedade Solidária, Câncer Vencido” autorize o debito automático de qualquer valor (a partir de R$ 10,00) na sua conta corrente nos bancos Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú e Real. O cadastro pode ser realizado neste site.
Temos como meta alcançar 25.000 doadores, seja você um deles!


CARNÊ SOLIDÁRIO

Seja uma das pessoas que ajudarão a reduzir o deficit do Hospital Aristides Maltez. Adquira seu carnê no HAM, ou em casas lotéricas e estabelecimentos comerciais e deposite a sua doação em uma das contas disponíveis ou pague na tesouraria do hospital.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ilustrações com pitadas devotee



Fernando Lopes me mandou o link de um site com ilustrações ótimas e entre elas essas lindas, que para quem quiser interpretar assim pode ter uma pitada de devoteísmo. Lembrando que não é porque a pessoa se relaciona com um def que se torna devotee, hein? Coloquei aqui apenas porque achei ótimas e porque Fernando lembrou do Corpo Perturbador.

Pode ver mais coisas interessantes no site http://hangedfromstars.tumblr.com/post/2557621458

Infelizmente não consegui identificar o desenhista. 

É tempo de olhar para quem está criando - discurso de posse da Ministra da Cultura do Brasil

MINISTRA DA CULTURA DO BRASIL
Brasília, 03 de janeiro de 2011.
Posse da nova ministra
Discurso de posse proferido pela nova ministra da Cultura, Ana de Hollanda.

Excelentíssimos Srs. ministros e ministras, senadores e deputados, demais autoridades presentes, caríssimos servidores do Ministério da Cultura do Brasil,

Minhas amigas, meus amigos, boa tarde.

Antes de mais nada, quero dizer que é com alegria que me encontro aqui hoje. Uma espécie de alegria que eu talvez possa definir como uma alegria densa. Porque este é, para mim, um momento de emoção, felicidade e compromisso.

Sinto-me realmente honrada por ter sido escolhida, pela presidenta Dilma Rousseff, para ser a nova ministra da Cultura do meu país.

Um momento novo está amanhecendo na história do Brasil – quando, pela primeira vez, uma mulher assume a Presidência da República. Por essa razão, me sinto também privilegiada pela escolha. Também é a primeira vez que uma mulher vai assumir o Ministério da Cultura. E aqui estou para firmar um compromisso cultural com a minha gente brasileira.

Durante a campanha presidencial vitoriosa, a candidata Dilma lembrou muitas vezes que sua missão era continuar a grande obra do presidente Lula. Mas nunca deixou de dizer, com todas as letras, que “continuar não é repetir”.

Continuar é avançar no processo construtivo. E quando queremos levar um processo adiante, a gente se vê na fascinante obrigação de dar passos novos e inovadores. Este será um dos nortes da nossa atuação no Ministério da Cultura: continuar – e avançar.

A política cultural, no governo do presidente Lula, abriu-se em muitas direções. O que recebemos aqui, hoje, é um legado positivo de avanços democráticos. É a herança de um governo que se compenetrou de sua missão de fomentador, incentivador, financiador e indutor do processo de desenvolvimento cultural do país.

Sua principal característica talvez tenha sido mesmo a de perceber que já era tempo de abrir os olhos, de alargar o horizonte, para incorporar segmentos sociais até então desconsiderados. E abrigar um conjunto maior e mais variado de fazeres artísticos e culturais. Em consequência disso, muitas coisas, que andavam apagadas, ganharam relevo: grupos artísticos, associações culturais, organizações sociais que se movem no campo da cultura. E se projetou, nas grandes e médias cidades brasileiras, o protagonismo colorido das periferias.

É claro que vamos dar continuidade a iniciativas como os Pontos de Cultura, programas e projetos do Mais Cultura, intervenções culturais e urbanísticas já aprovadas ou em andamento – como as ações urbanas previstas no PAC 2, com suas praças, jardins, equipamentos de lazer e bibliotecas. E as obras do PAC das Cidades Históricas, destinadas a iluminar memórias brasileiras. Enfim, minha gestão jamais será sinônimo de abandono do que foi ou está sendo feito. Não quero a casa arrumada pela metade. Coisas se desfazendo pelo caminho. Pinturas deixadas no cavalete por falta de tinta.

Quero adiantar, também, que o Ministério da Cultura vai estar organicamente conectado – em todas as suas instâncias e em todos os seus instantes – ao programa geral do governo da presidenta Dilma. Às grandes metas nacionais de erradicar a miséria, garantir e expandir a ascensão social, melhorar a qualidade de vida nas cidades brasileiras, promover a imagem, a presença e a atuação do Brasil no mundo. A chama da cultura e da criatividade cultural brasileira deverá estar acesa no coração mesmo de cada uma dessas grandes metas.

Erradicar a miséria, assim como ampliar a ascensão social, é melhorar a vida material de um grande número de brasileiros e brasileiras. Mas não pode se resumir a isso. Para a realização plena de cada uma dessas pessoas, tem de significar, também, acesso à informação, ao conhecimento, às artes. É preciso, por isso mesmo, ampliar a capacidade de consumo cultural dessa multidão de brasileiros que está ascendendo socialmente.

Até aqui, essas pessoas têm consumido mais eletrodomésticos – e menos cultura. É perfeitamente compreensível. Mas a balança não pode permanecer assim tão desequilibrada. Cabe a nós alargar o acesso da população aos bens simbólicos. Porque é necessário democratizar tanto a possibilidade de produzir quanto a de consumir.

E aproveito a ocasião para pedir uma primeira grande ajuda ao Congresso, aos senadores e deputados agora eleitos ou reeleitos pela população brasileira: por favor, vamos aprovar, este ano, nesses próximos meses, o nosso Vale Cultura, para que a gente possa incrementar, o mais rapidamente possível, a inclusão da cultura na cesta do trabalhador e da trabalhadora. Cesta que não deve ser apenas “básica” – mas básica e essencial para a vida de todos. Em suma, o que nós queremos e precisamos fazer é o casamento da ascensão social e da ascensão cultural. Para acabar com a fome de cultura que ainda reina em nosso país.
A mesma e forte chama da cultura e da criatividade do nosso povo deve cintilar, ainda, no solo da reforma urbana e no horizonte da afirmação soberana do Brasil no mundo. Arquitetura é cultura. Urbanismo é cultura. Na visão tradicional, arquitetura e urbanismo só são “cultura” quando a gente olha para trás, na hora de tombamentos e restaurações. Isso é importante, mas não é tudo. Arquitetura e urbanismo são cultura, também, no momento presente de cada cidade e na criação de seus desenhos e possibilidades futuras. Hoje, diante da crise geral das cidades brasileiras, isso vale mais do que nunca.

O que não significa que vamos passar ao largo da vida rural, como se ela não existisse. O campo precisa de um “luz para todos” cultural.

De outra parte, o Ministério da Cultura tem de realmente começar a pensar o Brasil como um dos centros mais vistosos da nova cultura mundial.

Quero ainda assumir outro compromisso, que me alegra ver como uma homenagem ao nosso querido Darcy Ribeiro. Estaremos firmes, ao lado do Ministério da Educação, na missão inadiável de qualificar o ensino em nosso país. Se o Ministério da Educação quer mais cultura nas escolas, o Ministério da Cultura quer estar mais presente, mediando o encontro essencial entre a comunidade escolar e a cultura brasileira. Um encontro que há muito o Brasil espera – e onde todos só temos a ganhar.

Pelo que desde já se pode ver, o Ministério da Cultura, na gestão de Dilma Rousseff, não será uma senhora excêntrica, nem um estranho no ninho. Vai fazer parte do dia-a-dia das ações e discussões. Vai estreitar seus laços de parentesco no espaço interno do governo. Mas, para que tudo isso se realize, na sua plenitude, não podemos nos esquecer do que é mais importante.

Tudo bem que muita gente se contente em ficar apenas deslizando o olhar pela folhagem do bosque. Mas a folhagem e as florações não brotam do nada. Na base de todo o bosque, de todo o campo da cultura, está a criatividade. Está a figura humana e real da pessoa que cria. Se anunciamos tantos projetos e tantas ações para o conjunto da cultura, se aceitamos o princípio de que a cultura é um direito de todos, se realçamos o lugar da cultura na construção da cidadania e no combate à violência, não podemos deixar no desamparo, distante de nossas preocupações, justamente aquele que é responsável pela existência da arte e da cultura.
Visões gerais da questão cultural brasileira, discutindo estruturas e sistemas, muitas vezes obscurecem – e parecem até anular – a figura do criador e o processo criativo. Se há um pecado que não vou cometer, é este. Pelo contrário: o Ministério vai ceder a todas as tentações da criatividade cultural brasileira. A criação vai estar no centro de todas as nossas atenções. A imensa criatividade, a imensa diversidade cultural do povo mestiço do Brasil, país de todas as misturas e de todos os sincretismos. Criatividade e diversidade que, ao mesmo tempo, se entrelaçam e se resolvem num conjunto único de cultura. Este é o verdadeiro milagre brasileiro, que vai do Círio de Nazaré às colunatas do Palácio da Alvorada, passando por muitas cores e tambores.

Sim. A riqueza da cultura brasileira é um fato que se impõe mesmo ao mais distraído de todos os observadores. Já vai se tornando até uma espécie de lugar comum reconhecer que a nossa diversidade artística e cultural é tão grande, encantadora e fascinante quanto a nossa biodiversidade. E é a cultura que diz quem somos nós. É na criação artística e cultural que a alma brasileira se produz e se reconhece. Que a alma brasileira brilha para nós mesmos – e rebrilha para o mundo inteiro.

E aqui me permitam a nota pessoal. Mas é que não posso trair a mim mesma. Não posso negar o que vi e o que vivi. Arte e cultura fazem parte – ou melhor, são a minha vida desde que me entendo por gente. Vivência e convivência íntimas e já duradouras. Nasci e cresci respirando esse ar. Com todos os seus fluidos, os seus sopros vitais, as suas revelações, os seus aromas, as suas iluminuras e iluminações… E nesse momento eu não poderia deixar de agradecer ao meu pai e à minha mãe, que me abriram a mente para assimilar o sentido de todas as linguagens artísticas e culturais. É por isso mesmo que devo e vou colocar, no centro de tudo, a criação e a criatividade. O grande, vivo e colorido tear onde milhões de brasileiros tecem diariamente a nossa cultura.

A criatividade brasileira chega a ser espantosa, desconcertante, e se expressa em todos os cantos e campos do fazer artístico e cultural: no artesanato, na dança, no cinema, na música, na produção digital, na arquitetura, no design, na televisão, na literatura, na moda, no teatro, na festa.

Pujança – é a palavra. E é esta criatividade que gira a roda, que move moinhos, que revela a cara de tudo e de todos, que afirma o país, que gera emprego e renda, que alegra os deuses e os mortais. Isso tem de ser encarado com o maior carinho do mundo. Mas não somente com carinho. Tem de ser tratado com carinho e objetividade. E é justamente por isso que, ao assumir o Ministério da Cultura, assumo também a missão de celebrar e fomentar os processos criativos brasileiros. Porque, acima de tudo, é tempo de olhar para quem está criando.

A partir deste momento em que assumo o Ministério da Cultura, cada artista, cada criadora ou criador brasileiro, pode ter a certeza de uma coisa: o meu coração está batendo por eles. E o meu coração vai saber se traduzir em programas, projetos e ações.

Sei que, neste momento, a arte e a cultura brasileiras já nos brindam com coisas demais à luz do dia, à luz da noite, em recintos fechados e ao ar livre. E vamos estimular e fortalecer todas elas. Objetivamente, na medida do possível. E subjetivamente, na desmedida do impossível. Mas sei, também, que coisas demais ainda estão por vir, das extensões amazônicas à amplidão dos pampas, passeando pelos assentamentos da agricultura familiar, por fábricas e usinas hidrelétricas, por escolas e canaviais, por vilas e favelas, praias e rios – entre o computador, o palco e a argila. Porque, no terreno da cultura, para lembrar vagamente, e ao inverso, um verso de Drummond, todo barro é esperança de escultura.

É preciso descentralizar, sim. Mas descentralizar sem deserdar. É preciso dar formação e ferramentas aos novos. Mas garantindo a sustentação objetiva dos seus fazeres. Porque, como disse, muita coisa ainda se move em zonas escuras ou submersas, sem ter meios de aflorar à superfície mais viva de nossas vidas. É preciso explorar essas jazidas. Explorar a imensa riqueza desse “pré-sal” do simbólico que ainda não rebrilhou à flor das águas imensas da cultura brasileira.

Por tudo isso é que devo dizer que a atuação do Ministério da Cultura vai estar sempre profundamente ligada às raízes do Brasil. Pois só assim vamos nos entender a nós mesmos. E saber encontrar os caminhos mais claros do nosso futuro.

Minhas amigas e meus amigos, antes de encerrar, quero me dirigir às trabalhadoras e aos trabalhadores deste Ministério. De uma forma breve, mais breve do que gostaria, mas a gente vai ter muito mais tempo para conversar. De momento, quero apenas dizer o seguinte: seremos todos, aqui, servidores realmente públicos. Vou precisar, passo a passo, da dedicação de todos vocês. Vamos trabalhar juntos, somar esforços, multiplicar energias, das menores tarefas cotidianas, no dia-a-dia deste Ministério, às metas maiores que desejamos realizar em nosso país.

Em resumo, é isso. O que interessa, agora, é saber fazer. Mas, também, saber escutar. Quero que a minha gestão, no Ministério da Cultura, caiba em poucas palavras: saber pensar, saber fazer, saber escutar. Mas tenho também o meu jeito pessoal de conduzir as coisas. E tudo – todas as nossas reflexões, todos os nossos projetos, todas as nossas intervenções –, tudo será feito buscando, sempre, o melhor caminho. Com suavidade – e firmeza. Com delicadeza – e ousadia.

Mas, volto a dizer, e vou insistir sempre: com a criação no centro de tudo. A criação será o centro do sistema solar de nossas políticas culturais e do nosso fazer cotidiano. Por uma razão muito simples: não existe arte sem artista.

Muito obrigada.
Ana de Hollanda

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O stress - entrevista Aécio Cruz



Aécio é uma pessoa, um amigo que adoro encontrar.Não nos vemos muito, mas quando nos encontramos é sempre com muito carinho e delicadeza. Lembro da sua emoção ao assistir meu espetáculo Odete, traga meus mortos. Seus olhos me diziam tudo que sentia naquele momento.

Escolhi sua entrevista para iniciar o ano porque começamos o mês onde teoricamente todos curtem, todos descansam e aproveitam a vida, bem diferente do que normalmente vivemos com a agitação do trabalho e aprocupação com os afazeres. Espero que o stress não seja nosso companheiro e que consigamos lidar com as dificuldades e as turbulências de forma serena.

Eu mesmo preciso aprender a viver isso.