terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A histeria de um Corpo PERTURBA-A-DOR

Prezado Edu,
seu relato é cruel pq expõe as misérias de nosso sistema de saúde, mas tb, pq. (des)/ revela algo sobre vc mesmo. Não sou psicanalista -ainda...fiz 7 anos de análise lacaniana e 3 de formação, inconclusa -e penso que essa dor que vc sentiu, pode ser o que Lacan chamava de Sintoma histérico - nada demais, afinal todos temos traços histericos de vez em quando - em função de um espetáculo cujo conteúdo é muito denso e que "PERTURBA-A-DOR" DE SER esse SujEito barrado, esse corpo fora dos padroes, deserotizado,enfim esse "CORPO PERTURB-A-DOR". Ninguém mexe com um significante desse em vão. Freud dizia que o histérico faz do corpo um palco. Talvez, vc devesse reavaliar que significante tem sido revirado,mexido, incomodado com a "feitura" e escrita desse espetáculo em você. Desejo sinceramente que vc melhore, mas saiba que as dores do corpo, assim como os limites desse mesmo corpo, saõ sempre menores que os limites do desejo.
abç fraterno,

Jamile Borges

Recebi esta mensagem como comentário ao post sobre minha recuperação e sobre os problemas com os hospitais, lá no blog Monólogos na Madrugada. Achei impossível não compartilhar aqui no blog do trabalho. Ainda estou refletindo......

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Solidão e animalidade - Diego Becker (entrevista)



Se eu tirasse a imagem de Diego e colocasse a minha, poderia dizer que ele fala de mim. Eu poderia dublar e pegar como minhas as suas palavras. A solidão, animalidade... tudo isso está nesse trabalho novo, está no meu Corpo Perturbador.

Ciranda da alegria


Feliz Natal, galera!!! Hoje é um dia em que a gente mete o pé na jaca, se atola em comida, as nozes se vêem rodada, o peru coitado deve sofrer com uma semana de antecedência e não pela morte, mas pela vergonha dos enfeites. Então, eu peço que vocês se solidarizem comigo que estou de dieta médica e não comam muito, um arrozinho, saladinha.... beber no máximo suco, nada de vodka dentro, viu? Aff, despeito é coisa triste, ne?

Agora falando sério, obrigado pela companhia de vocês aqui e desejo um Natal de muita felicidade e harmonia. Com PERTURBAÇÕES gostosas, com dança, alegria, música, abraços, beijos, pessoas amadas e sorrisos, muito sorrisos. Tudo isso caminhando como uma ciranda, rodando de mãos dadas com todos vocês.

Beijossssss

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ciganos - entrevista O Corpo Perturbador



Tenho verdadeiro fascínio pela cultura cigana, sua dança, sua música, suas roupas. Sempre tive admiração, desde quando era criança e os via passeando pelas ruas de Santo Amaro.

No Encontro da Diversidade Cultural, promovido pelo MINC, no Rio de Janeiro, encontrei Nicolas e Ingrid Ramanush, representantes da ONG Embaixada Cigana do Brasil e pedi uma entrevista para o blog. Eles são muito simpáticos e a conversa foi melhor do que eu esperava.

A princípio eu não tinha percebido a deficiência de Nicolas, que tem sequela de poliomielite em duas das pernas. Foi incrível a fala dele sobre a aceitação da deficiência dentro da comunidade cigana e também sobre o olhar da sociedadeem geral. Fiquei muito feliz com esta possibilidade de me aproximar um pouco deles, saber coisas que me interessam e agora compartilho aqui.

A Embaixada Cigana do Brasil Prahlipen Romani é uma Sociedade Civil, sem fins lucrativos que visa a valorização e preservação da cultura cigana. Saiba mais neste site interessantíssimo http://www.embaixadacigana.com.br/ Adorei ouvir as lendas ciganas.

Foto meramente ilustrativa encontrada na internet

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O presente de Fábio




Fotos de Fábio Duarte

Fábio é um amigo das antigas, quando eu estudava em Belas Artes. Não lembro se ele fazia a faculdade na mesma época, mas sei que não saía de lá. Amei as fotos que ele com a Holga, sua máquina lomográfica, que captou as cores tão lindamente. É de uma beleza e poesia que me comoveu ao ver o meu espetáculo através de seus/suas olhos/lentes.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Evoé, Baco!


Dioniso, Baco, Zagreu, Iaco, Brômio, Eduardo, João, Nei, Alencar, Thiago, Pedro, Marcos, Igor, Kley, Alexsandro, Leo, Tony, Valter, Ricardo, André, Carlos, Sidinei, Cassio........



Muitos deuses, muitos homens... Cada um com suas mortes, transformações... Ritos de passagem... Rejuvenescimento...

O mito de Dioniso é uma verdadeira celebração à vida, à força da luta pela vida, pela afirmação da vida, é uma transgressão às regras para se firmar como deus. É a luta da vida contra a morte. Ressurreição. Ao estudar-se o Tarô dos Anjos, percebe-se uma aproximação desse mito com a carta da Morte, que tem como palavra-chave TRANSFORMAÇÃO, FIM NECESSÁRIO. A carta da morte sugere que após o reconhecimento da futilidade, ocorre uma transformação de fato, no sentido de regeneração espiritual. Mas como se sabe, existe um período de tristezas e incertezas, entre a poda do velho e a maturação do novo. O Dioniso Arcaico morre, dando lugar a um novo Dioniso, renascido e gerado nas coxas do pai, trazendo consigo o poder da transformação. A morte é ao mesmo tempo mudança e estabilidade.

Todo pensamento transgressor está ligado a Dioniso, tudo que foge aos padrões, às regras. Esse é um deus de atitudes desmedidas, como já foi dito anteriormente “iniciador ao êxtase místico resultante da entrega do corpo às substâncias  inebriantes, com ênfase nas bebidas alcoólicas” Junito Brandão. No início  o mito de Dioniso não foi bem aceito na Grécia, por não ser um mito genuinamente grego, ainda hoje a loucura também não é bem aceita por ameaçar a normalidade, por não (“dever”) pertencer genuinamente à mente humana, há pouco tempo atrás o alcoolismo era tratado em hospitais psiquiátricos, os artistas são considerados pessoas excêntricas, “loucas”, ou seja, nada que não esteja sob  controle e questiona e faz pensar não serve para esse mundo padronizado, mecânico, apolíneo, embora a desmedida dionisíaca esteja por toda parte.  Faz-se necessário aqui a comparação entre esses dois deuses para entender-se melhor a análise de mundo sob este ponto de vista. “Esses dois deuses acabaram virando uma espécie de parâmetro para características humanas que se opõem. Os apolíneos (pessoas com traços semelhantes aos de Apolo ou com tendências a agir como ele) seriam mais racionais, apreciadores da medida, da lógica, das curvas perfeitas, da harmonia, das emoções contidas e bem dosadas. Já os dionisíacos são aqueles que não dão importância para a medida e a razão. Eles ultrapassam as convenções em nome da luxúria, das emoções intensas, do prazer sem limites, das experiências sensoriais, que valem mais do que qualquer raciocínio lógico. Os dionisíacos são pura emoção, enquanto os apolíneos prezam pela razão, ou seja, os dois deuses compõem a dicotomia humana” Revista Deuses Gregos.

Desejei falar sobre esse mito por pura identificação em várias questões trazidas pelo mesmo: a questão  da luta por firmar-se; a transformação (literalmente) corporal dando incentivo a esta luta; pela arte à qual este é associado “ligado ao gênero dramático”; o sentido de êxtase e embriaguez trazido pelo mito, o “ser tomado de um delírio sagrado”. Enfim muitas questões que me orgulham de apesar ter em mim o apolíneo, ser o espírito dionisíaco que me impulsiona sempre para atingir meus objetivos.

Fotos de Nei Lima

"Venha aqui, Dioniso, ao seu templo sagrado junto ao mar; Venha com as Graças ao seu templo, correndo com seus pés de touro, Oh bom touro, Oh bom touro!"

De acordo com uma versão do mito da morte e renascimento de Dioniso, foi como touro que ele foi despedaçado pelos Titãs, e os habitantes de Creta representavam os sofrimentos e morte de Dionísio despedaçando um touro. Aliás, o ato de matar ritualmente um touro e devorar sua carne era comum aos ritos do deus, e não há dúvidas que quando os seus adoradores faziam esses sacrifícios, acreditavam estar comendo a carne do deus e bebendo seu sangue.

Outro animal cuja forma era assumida por Dioniso era o cabrito. Isso porque para salvá-lo do ódio de Hera, seu pai, Zeus, o transformou nesse animal. E quando os deuses fugiram para o Egito para escapar da fúria de Tifon, Dioniso foi transformado em um bode. Assim, seus adoradores cortavam em pedaços um bode vivo e o devoravam cru, acreditando estar comendo a carne e bebendo o sangue do deus.

No caso do cabrito e do bode, quando o deus passou a ter sua forma humana mais valorizada, a explicação para se sacrificar o animal veio de um mito que narrava que uma vez esse animal havia despedaçado uma vinha, objeto de cuidados especiais do deus. Nota-se que neste caso perdeu-se o sentido de sacrificar o próprio deus, tornando-se um sacrifício para o deus.

Uma vez, quando Dioniso quis navegar de Icaria para Naxos, ele entrou em um navio pirata tirreano. Os piratas, entretanto, ignoravam a identidade do deus, e tencionavam vendê-lo como escravo na Ásia. Quando percebeu que estavam indo para outra direção, Dioniso fez brotar heras pelo navio e transformou o mastro em uma grande serpente. Ouvia-se o som de flautas, e o doce aroma do vinho podia ser sentido por toda a embarcação. Os piratas enlouqueceram, e atirando-se ao mar foram transformados em golfinhos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Meu bloco na rua

Ave Mariah Carey - entrevista Fernando Souza



Ave Mariah Carey, na primeira vez que Fernando fiquei perturbadíssimo!!! Pela beleza, pelo "homão" que ele é, pela energia. Nos tornamos amigos e me perturbei mais ainda com sua sensibilidade, sua inteligência, sua criança sempre presente. Nando me prestigia em tudo que faço e na semana de estréia do espetáculo estava ele lá com seu olhar emocionado e seu abraço, garantindo que voltaria. Eu então falei que publicaria sua entrevista nesta semana porque apesar de falar coisas que eu acho muito importantes todos nós estarmos ligados, atentos, é leve e a gente ri. Tudo esteve muito pesado pro essas bandas de cá, Fernando vem aliviar essas minhas dores. DELICIAAAAAAAAAAAAA!!!!

Eu acredito que fiquei doente porque me desconectei com o todo, fiquei ultramegasuperpower dedicado ao trabalho que me exigia um esforço físico muito grande e desleixei do lazer, da alimentação, do repouso, vivi num estado de estresse constante e o meu corpo me perturbou com doença.

Como repeti várias vezes através da poesia de Drummond:

"O seu ardil mais diabólico

está em fazer-se doente."

"Meu corpo inventou a dor

a fim de torná -la interna,
integrante do meu Id´
ofuscadora da luz
que aí tentava espalhar-se."

domingo, 19 de dezembro de 2010

A estiagem

Bonequinhas feitas por Diane

Hoje o sol saiu com força num dia lindo! A tormenta, a dor, os dias chuvosos já passaram e agora é só comemorar a estiagem.

Aqui em casa mainha e meu sobrinho fizeram bonequinhos de Santa Clara para a chuva passar na semana da estréia d'O Corpo Perturbador. Diane fez em sua casa também. Agora penso que os bonequinhos serviram também para esta semana complicada.

"Santa Clara clareou
São Domingo alimiou
Vai chuva
Vem sol
Pra enxugar o meu lençol"

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Da lágrima ao nó

Há um pouco de lágrima nestas palavras

Há uma luz fria em cima de mim

Há incertezas nas falas médicas

Há um medo dentro de mim

Há tanta coisa nesta minha cabeça

Há uma vontade de partir

Há um lugar latejando a luz

Há um nó em mim

O Inferno

O Jardim das Delícias do pintor Hyeronimus Bosch

Quando convidei Anderson Falcão (AF Design) para me ajudar na identidade visual do projeto O Corpo Perturbador, eu sabia que estava entregando meu filho em ótimas mãos. Desde a inscrição do projeto no Edital da FUNCEB ele escolheu a imagem deste trabalho de Bosch, sobrepondo-o ao meu corpo fotografado pro Alessandra Nohvais. Fiquei impressionado com a beleza daquele trabalho e como ele traduzia o que eu pretendia. Senti, ao pegar para inscrever o projeto pronto, que daria certo. O texto estava muito claro, objetivo, embasado, escrito por mim com muita ajuda de Cléa Ferreira e Fafá Daltro e visualmente impactante, com um vermelhão que chamava logo atenção para aquilo.

Adoro os Rs invertidos que ele tornou logomarca do projeto, além de gostar dele pessoalmente. Um amigo querido, com uma família maravilhosa. Sua mulher é uma das minhas melhores amigas desde adolescência.

Anderson foi muito feliz na escolha deste trabalho de Bosch, o Inferno, painel da direita do tríptico “O Jardim das Delícias” e sem imaginar me ajudou a seguir um caminho na pesquisa que desenvolveria para o espetáculo.

Tenho insistido em dizer que o produto/espetáculo é apenas uma perna de todo o projeto. Tudo se encaixa e discursa sobre o que eu queria dizer nesse trabalho. Para uma maior compreensão é necessário ter acesso a arte visual, ao figurino, cenário, trilha, aos posts do blog, as referências que utilizei, aos nossos corpos, ao Papo Perturbador... enfim e lógico que todos tem pleno direito de apenas pelo espetáculo tirarem suas conclusões e refletirem com o conteúdo que assistem e eu fico louco para saber o que se passa na cabeça de quem vê. Estava faltando eu publicar sobre a identidade visual do projeto. Aqui está.


Absurdos do atendimento médico

 

Do açougue, do restaurante, do hospital

Terça-feira começou minha via crucis em plena época de Natal. Há quatro dias eu sentia uma dor na parte inferior esquerda do abdomen. Achei que tinha a ver com o esforço exagerado que faço no esptáculo e deixei passar. Ontem resolvi procurar as emergências dos hospitais próximos a minha casa. Primeiro passei no Espanhol onde fui atendido pelo Dr Gustavo Duran. Este profissional sentado atrás da mesa estava, sentado atrás da mesa continuou. Me fez algumas perguntas que respondi com os sintomas que eu sentia. Satisfeito com minhas explicações diagnosticou de cara "é muscular". Não se levantou para avaliar meu abdomen e foi logo receitando relaxante muscular. Eu que trabalho com e entendo perfeitamente meu corpo, sabia que não era dor muscular e lógico que não segui as recomendações médicas.

Chegando em casa me senti febril e me preocupei um pouco mais. Me dirigi ao Hospital Português que como sempre estava com emergência lotada e placa pedindo para os pacientes procurarem outro estabelicimento. Insistimos (eu e minha irmã) e fomos atendidos. O que eu pensava ser uma consulta de no máximo quatro horas está durando até agora com minha internação a aprtir do diagnóstico de diverticulite.

A espera para os exames ainda na terça-feira a noite foi grande. Foi solicitada uma tumografia para avaliar se seria problema intestinal ou urinário o que causava aquela dor intensa. Chegando na sala do exame informei que sou alérgico a caranguejo e siri, fizeram a tumografia sem o contrastee depois disso resolveram repetir o exame com este procedimento. Para isso foi necessário fazer uma desensibilização o que me obrigou a dormir no hospital. A novela começa ai.

As 2:30h da madrugada tomei a primeira medicação e fui informado que as 8h da manhã repetiria o procedimento e as 9h tomaria uma injeção para enfim ser encaminhado ao exame com o contraste. Pois bem, uma noite incômoda, apreensiva porque eu não sabia o que se passava, minha cabeça só me dizia coisa ruim, chorando com medo. As 9h me deram a injeção e enfiaram um acesso na veia para que fosse aplicado o tal contraste. "senhor, daqui a pouco o senhor vai fazer a tumografia". nervoso eu esperei até meio-dia, vendo pessoas que chegaram naquela manhã serem atendidas antes de mim. eu que estava sem comer desde as 16h do dia anterior, com fome e sede pois nem água eu podia beber. Quando percebi que eles estavam me esquecendo ali, largado, o médico da madrugada nem se aproximou de mim para saber se eu estava com dor ou alegre. Comecei a me desesperar, desci da maca, sentei na minha cadeira e comecei a brigar, em voz bem alta, contra o desrespeito que estavam fazendo comigo, comecei a chorar. Então, vi o chefe da emergência do Hospital Portugês, um Dr. Renato Valente, conversando com meu acompanhante. Então repeti para ele que eu estava com fome, com sede, nervososem saber o que estava acontecendo e que eles estavam me enganando, me fazendo de idiota, informando toda ora que eu seria o próximo atendido, mas que toda hora outra pessoa entrava na minha frente.

Este cidadão,  Dr. Renato Valente, achou ruim minha reclamação e começou a me tratar mal,como se eu não tivesse direito de reclamar ou estar estressado. Disse que não falaria comigo enquanto eu não me acalmasse, que eu não gritasse, que o procedimento era aquele se não eu teria morrido, que eu teria que esperar 12 horas, etc etc etc... eu fui chorando mais ainda e me retirei do sala onde ele havia me levado. Procurei o médico que me atendeu anteriormente pedindo que ele fosse verdadeiro comigo, pois eu precisava saber o que estava se passando. Ele então me disse que seu colega não estava sabendo o que aconteceu e que aquela informação das 12 horas não era verdadeira, haviam feito um procedimento que agilizou a desensibbilização e que eu desceria para o exame.

Depois de todo o escândalo que foi necessário fazer, eles me encaminharam para a tumografia. Minha irmã me pedindo calma, mas como poderia me acalmar numa situação dessa? Somente com a reclamção e três horas de atraso, eles que me diziam o tempo todo que eu já desceria, resolveram me levar.

Quando voltei, meu acompanhante disse que o Dr. Renato Valente lhe falou "não trabalho em restaurante, nem lanchonete" para lidar com uma situação daquelas. Numa total demonstração de falta de ética e de sensibilidade. Porque ele se trabalhasse num desses estabelicimentos com certeza faliria, mas como tem o "poder" da medicina em mãos e nós não pagamos diretamente a ele por aquele serviço, somos obrigados a nos deparar com figuras com esta que não tem o menor cuidado com as pessoas com quem trabalha. Na noite anterior ele chegou na recepção do hospital, passando na frente de todo mundo colocando uma pessoa conhecida na fila para ser atendida antes do que os outros.

Dr. Renato Valente não trabalha em restaurante, nem lanchonete, mas faz do hospital onde exerce sua função um açougue. Somente quando ele viu que não estava a par do que aconteceui comigo, quando seu colega falou em sua frente que ele estava enganado e que o procedimento que ele afirmava ser para proteger a minha vida não condizia com tudo que já tinha passado, ele sem pedir desculpas mudou o tom de voz, mas aí já era tarde demais, o mal que me fez já estava impregnado no meu corpo.

E ao Dr. Gustavo Duran informo que uma diverticulite não se trata com muscolare. Eu nem estudei medicina para saber que é preciso analisar com cuidado os pacientes. Se eu tivesse mentido dizendo um quadro diferente do que eu sentia, ele teria feito como pai de santo charlatão, adivinharia minha doença. Para isso não precisa ficar tanto tempo numa faculdade. Abre uma tenda e coloca

"PAI GUSTAVO DURAN atende", cuidado para não levar o colega Renato Valente como coordenador porque pode falir  seu negócio.

Haja incompetência na área de saúde, viu? E assim ficamos a mercê de profissionais, (ops) profissionais? como estes.

O que salva são os outros profissionais atenciosos e delicados, dedicados ao que fazem que me atenderam e estão atendendo para que eu me recupere logo. A equipe de enfermeiros e assistentes da emergência foi muito boa e agora na Unidade Gastro do Portugês também o antendimento é excelente. Uma pena terem colegas como estes que descrevi no início da conversa.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Corpo em cuidados...


Gente, a temporada teve que ser cancelada por motivo de saúde de Edu, mas ele está bem dentro do possível mas terá que ficar de molho... não se preocupem. 

Escolhi esta foto junto com Du (ao telefone) que tá bem a cara dele e desse momento! 
"Ô fios... a gente paga!"

Fiquei chocada a princípio mas depois que falei com ele me tranquilizei mais.

Por agora só mesmo cuidados e carinhos e em breve ele voltará ao blog, dando continuidade ao projeto!

Aguardem a próxima temporada em breve!

abraços!

Diane Portella

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

(Con)Versando com Débora Pedroso

Amiga,ainda não recebi nenhuma foto das apresentações, desculpe não ilustrar este texto para que você consiga visualizar tudo direitinho. Para mim O Corpo Perturbador não se restringe apenas no espetáculo. O meu desejo (que foi alcançado) era que este projeto trouxesse reflexões outras sobre este nosso corpo, sobre os desejos e suas perturbações, mais ainda, que possibilitasse outras leituras que viriam da experiência de cada um, tanto de quem está no processo quanto de quem assiste. Também de participa e lê o blog, quem conversou nos Papos Perturbadores, quem opinou, quem criticou,quem sugeriu, quem se tocou para o que estava acontecendo.

Conseguimos atingir a meta de acessos ao blog antes mesmo do projeto acabar. Isso me deixa feliz, muito feliz.

Já na sexta-feira antes da estréia, quando promovemos o ensaio aberto tudo estava definido em minha mente, a estrutura do espetáculo estava pronta e sei que precisávamos aprimorar algumas coisas para que ficasse clara a proposta de cada cena. Foi muito importante aquele dia e para mim ali foi a estréia.

Na quinta, dia 09/12 estávamos ansiosos, com problemas de tempo, a chuva, o horário, com medo de não ter público, com medo normal de quem vai colocar filho no mundo. Uma ida sem volta. O público compareceu além das expectativas para um dia de semana, horário de trabalho, tarde chuvosa. Não só o públcio mas os raios e trovões que deram uma energia e beleza diferenciada àquele primeiro dia.

Meia Lua, a outra pessoa que está dançando comigo, arrasou. Tem uma presença cênica incrível, é belo, forte. A sua entrada em cena é espetacular. Me dá vontade de parar o que estou fazendo para vê-lo descendo as escadas de costas, se movimentando apenas com os ombros. É lindo!

Eu entro com as pernas de bode (o figurino é lindo!) e adoro jogá-las como um rabo de escorpião. Me sinto Cláudia Raia jogando os cabelos ou então, minha Malu Mader, tirando o capacete e desenrolando os cabelos em Fera Radical. hahahahahahahahha Tenho juizo? Nenhum, ne?

Daí parto para o strip-tease da spernas e a tentar derrubar Meia Lua da estrutura. Saimos correndo, pegamos picula e acabamos numa luta violenta e ao mesmo tempo sensual. É uma maratona fazer o espetáculo, minha filha.

Acabamos ofegantes e vamos trançar as canetas (jogar as pernas finas um do outro), aí caminhamos pro final onde me debato como bicho enjaulado e Meia quebra a estrutura, rompe os alicerces. Tudo bastante simbólico e não posso/sei traduzir aqui,para não guiar a leitura dos outros.

acabamos nos iluminando, destacando cada parte do corpo, o suor, a respiração e a tranquilade em estarmos em nós mesmos.

A trilha executada ao vivo é um show a parte que Cássio Nobre faz. Linda, intensa, corresponde exatamente a tudo que pensei e traz o clima necessário para cada cena, sem ser lengenda, sem ser trilha de novela. Maravilhosa!

O cenário você já viu nas fotos, né? Mágico, deslumbrante!

Falo sempre no superlativo porque este projeto é assim, não tem como ser mea-boca, inho, ele é gigante, imenso, forte. Tão forte que caí doente. O corpo pedindo calma, paciência, cuidado.

Estou querendo te escrever ou conversar via skype com você desde a estréia, mas realmente não tenho conseguido. É um cansaço imenso, cabeça cheia. Preferi escrever um post porque assim jácompartilho com todo mundo minhas impressões e também narro para quem está longe, assim como você, um pouco do que acontece em cena.

Tenho que me cuidar para esta segunda semana. Depois te conto mais.

Um beijo do Brasil para você que está aí nos EUA.

Edu

A validade do tempo

Acordei pensando no final das coisas, de mim, dos projetos, das pessoas.... Acordei sem querer acordar. O tempo do meu sono! E pensando como o tempo é eterno. E como digo em Odete:

"Nunca soube lidar com o prazo de validade das coisas!"

Oração ao tempo
(Caetano Veloso)

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Agradecimentos

Hoje e sempre tenho que agradecer a Cléa Ferreira, Fafá Daltro, Emilie Lesbros, Clênio Magalhães, David Iannitelli, todos os entrevistados para o blog, aos escritores dos microcontos devotees, Dinorah Oliveira, Paloma Oliveira, Rudá Oliveira, Anderson Falcão, Edvaldo Pereira, Makiba, Tia Lila, Alcione Alves, Paula Karyza, Escola de Dança da UFBA, Diretoria de Dança da FUNCEB, ICBA, Wagner Schwartz, Alessandra Nohvais, Drica Rocha, Débora Motta, André Baliú, Stephany Mattanó, Cathy  Pollini, Guillaume Lauruol, aos amigos que com seus olhares cuidados deixaram suas impressões durante o processo de criação.
A todos da equipe que foram parceiros e fundamentais nessa perturbação e em especial aos meninos da Miniusina de Criação pela porta sempre aberta.
(este agradecimento consta no programa, mas como tem pessoas distantes e impossibilitadas de virem assistir ao Corpo Perturbador, publiquei minha gratidão eterna)

Foto de Alessandra Nohvais

Corpo questionador - Cássio Nobre (entrevista)



Cássio fez uma trilha incrível para o espetáculo, elogiada por tudo mundo que assiste. Trabalhar com ele é uma delícia, porque chega com sua calma, tão tranquilo ouvindo atentamente o que a gente propõe e quando senta-se ao lado dos instrumentos sai naturalmente coisas belíssimas. Desde as experimentações até o que ficou deifinido, tudo foi extraordinário. Podemos fazer cada dia uma trilha diferente, ele improvisando o que quiser que na hora sai um trabalho incrível.

Publico hoje a entrevista que Cássio nos concedeu porque resume o que é o espetáculo. Violento no sentido de quationar, perturbar e trazer outras reflexões que não apenas aquelas previstas no projeto, no release, nas idéias da equipe.

Neste início de semana estaremos de folga, deixando tudo reverberar no corpo enquanto descansamos para enfrentar outra semana de apresentações intensas e deliciosas.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Perturbados em flor


 

 
Fotos de Diane Portella

Descontração no camarim. A coisa pegando fogo de prazer e contentamento em estar num projeto tão marcante como este.

Como diria Fafá: "Flores para mim!!!!"

sábado, 11 de dezembro de 2010

137 degraus - Meia Lua (entrevista)



A questão da acessibilidade sempre me perturba porque viola o direito de ir e vir. Sem acessibilidade não podemos caminhar, sair, locomover, entrar, falar.... sem acessibilidade vivemos eternamente dependentes. meia Lua é um cara retado porque tem que subir e descer 137 degraus de uma escadaria onde mora e trabalha e ri e conversa e canta... andando com as mãos pelas ruas imundas de Salvador.

Meia Lua anda arrasando no espetáculo! Agradeço o tempo todo a Diane por ter convidado Meia e a ele por aceitar entrar  nessa loucura que é o mundo da dança. Ele está radiante, belo, super profissional. Uma força gigantesca em cena. Sem ele o meu Corpo Perturbador seria um meu sem graça, fraco. Com ele virou NOSSO. Amanhã tem mais Meia Lua e sua dança grandiosa!

Foto de Diane Portella

A perturbação de quem idealizou



Relutei bastante a fazer o depoimento sobre o que me perturba e também o corpo perturbador para mim, pelo simples motivo de não interferir na leitura do espetáculo. Percebi o quanto é difícil resumir nossas perturbações, porque é uma opinião daquele momento que fica perpetuado e temos muitas, muitas outras perturbações que na ocasião não nos surgem. O que eu revelo como perturbações também não é o que traduz o espetáculo. Acho importante deixar isso claro. No espetáculo peguei os vários depoimentos concedidos ao projeto e outras referências em músicas, vozes, poesias, fotografias e experiências vividas.

Neste final de semana da estréia d'O Corpo Perturbador, resolvi publicar as entrevistas de quem está em cena. Começo por mim e depois Meia Lua e Cássio Nobre.

Agora estou indo me arrumar para ir ao ICBA me preparar para a apresentação. Espero todo mundo lá. Hoje (sábado), amanhã e semana que vem ainda teremos de Quinta a Domingo (16 a 19/12), as 17:30h, Grátis.

Obrigado a todos que apareceram e declararam coisas incríveis sobre o trabalho e a equipe por fazer do meu porjeto uma coisa tão forte e bela.

Foto de Marcos Núnez

A Trilha Perturbadora

Por Cássio Nobre

A trilha sonora do “Corpo Perturbador” surge da experimentação em torno de ruídos, distorções, dissonâncias, dinâmicas e deslocamentos sonoros. Ao vivo, são utilizados instrumentos reais (como a guitarra baiana e pedais de wah-wah, overdrive, delay e loop), e instrumentos virtuais (plug-ins de processamento de áudio controlados via laptop). Além dos temas e texturas musicais criados especialmente para o espetáculo, obras de outros autores foram incorporadas à trilha, a exemplo de uma música do grupo Sepultura, e  uma poesia do poeta Carlos Drummond de Andrade.


Trilha sonora original, guitarra baiana e processamento de efeitos sonoros: Cássio Nobre

Músicas:

  1. Óstia (Sepultura)
  2. Dla Ciebie (Emilie Lesbros)
  3. Halftime (Erren)

Poesia: As Contradições do Corpo (Carlos Drummond de Andrade)

Meu corpo não é meu corpo,
é ilusão de outro ser.
Sabe a arte de esconder-me
e é de tal modo sagaz
que a mim de mim ele oculta.

Meu corpo, não meu agente,
meu envelope selado,
meu revólver de assustar,
tornou-se meu carcereiro,
me sabe mais que me sei.

Meu corpo apaga a lembrança
que eu tinha de minha mente.
Inocula-me seu patos,
me ataca, fere e condena
por crimes não cometidos.

O seu ardil mais diabólico
está em fazer-me doente.
Joga-me o peso dos males
que ele tece a cada instante
e me passa em revulsão.

Meu corpo inventou a dor
a fim de torná-la interna,
integrante do meu Id,
ofuscadora da luz
que aí tentava espalhar-se.

Outras vezes se diverte
sem que eu saiba ou que deseje,
e nesse prazer maligno,
que suas celulas impregna,
do meu mutismo escarnece.

Meu corpo ordena que eu saia
em busca do que não quero,
e me nega, ao se afirmar
como senhor do meu Eu
convertidoem cão servil.

Meu prazer mais refinado,
não sou eu quem vai senti-lo.
É ele, por mim, rapace,
e dá mastigados restos
à minha fome absoluta.

Se tento dele afastar-me,
por abstração ignorá-lo,
volta a mim, com todo o peso
de sua carne poluída,
seu tédio, seu desconforto.

Quero romper com meu corpo,
quero enfrentá-lo, acusá-lo,
por abolir minha essência,
mas ele sequer me escuta
e vai pelo rumo oposto.

Já premido por seu pulso
de inquebrantável rigor,
não sou mais quem dantes era:
com volúpia dirigida,
saio a bailar com meu corpo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando perturbações se movem...

Um olhar entre as curvas tortas de corpos que descobrem outros caminhos e vontades, desejos de experimentar-se e se deliciar com a criação. Vértebras que se movem para fundir suas próprias vivências delineiam um esqueleto de caminhos tortuosos, emaranhados entre doces promessas de tranqüilidade e poesia.

Perturbar, incomodar, remexer, dilacerar os julgamentos, os silêncios, os espaços que se mostram cada vez mais impermanentes e escorregadios.

A experiência do corpo perturbador é um fractal de lugares, paixões, dores, alegrias que escoam sensibilidade em cada gota conquistada, bebida e saboreada por Edu O. e Meia Lua.

O esforço que parte dos corpos se dilui na grandiosidade da criação que não busca o lugar-comum da representação e se apresenta nua, exposta em sua inteireza a brincar e a percorrer possibilidades. O Corpo Perturbador dança os espaços de um infinito mágico onde o encantamento habita o instante revelado, a sutileza oferecida, a visceralidade de dois homens, artistas que movem um tempo desconhecido. Perturb(a)ções e reações, que deslocam o lugar passível do conforto e transforma o caos em morada. Apropriar-se da linha tênue entre o risco e a exaustão e brincar, brincar pertubadoramente nesse parque emaranhado de obstáculos.

Corpo, móvel do animal que deseja, confronta territórios e busca o incansável, corpo que desafia as certezas e carrega o peso leve de sustentar-se em sua sensibilidade, corpo que se esvai, sem esvaziar-se, fluido, líquido como a força da correnteza que enfrenta a segurança das pedras. Corpo que retorna ao mundo interior, ao conflito de ser o que se é, desejando ser o outro, corpo que partilha da dúvida e aprende a dividir as escolhas, corpo que não decide pelo óbvio e insiste em desvendar o improvável.

Perturbar é existir...

Meu muito obrigada a Edu O. e a Meia Lua, por compartilharem comigo essa maravilhosa jornada.

Carolina Teixeira
06 de dezembro de 2010.

Foto de Diane Portella

Depois da estréia



O público chegou! São Pedro e Yansã deram o ar da graça! Meia Lua encantou! A trilha de Cássio arrasou! O cenário foi um ponto fortíssimo! O figurino emoldurou lindamente! Os corpos dançaram! A luz sutilmente lambeu as peles! Tudo correu como deveria e mais. Expectativas superadas. Alegrias. Inseguranças. Raivas. Sensações complexas.

Hoje um gosto de lágrima que ainda não havia caído, talvez esperando a chuva chorar mais uma vez.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Viva O CORPO

Diane maravilha homenageando O Corpo!!!!!

Aos deuses da Dança, da Arte, do Teatro, da CRIAÇÃO! Toma conta de tudo que tudo é teu!

A estréia superou minhas expectativas, aconteceram coisas inesperadas no espetáculo que ficaram excelentes dentro do que pensamos. Meia Lua foi lindo, lindo, lindo!!! O cenário, a música, os corpos, o figurino, a luz.... Tudo encaixadinho.

As falas depois da apresentação me surpreenderam. Pensei que O Corpo Perturbador não teria uma aceitação fácil, porque difgere de tudo que fiz, mas o espetáculo conquistou o público e estou muito satisfeito. Confesso que ainda não digeri este dia, muita coisa difícil, muita coisa boa, muita coisa........

Amanhã tem mais!!!!!

O território

Por Miniusina de Criação


Foto Diane Portella


O território é inóspito quando não estamos envolvidos nele.
Se percebermos o estilhaço como espelho,
o desenho malfeito se revela identidade.
E o corpo, território, identificação.

Inóspito não, inusitado.

A Produção

Por Catarina Gramacho

Foto Diane Portella

Montar quebra-cabeças que ligue o sonho à realidade, apagar incêndios e ver surgir labaredas muito mais fortes a cada reunião, administrar o poder e o querer e ver surgir na dança de um Corpo Perturbador as minhas outras inquietações.

É HOJEEEEEEEEEEEEE




O site queridissimo Aldeia Nagô deu destaque ao Corpo Perturbador. Mais uma vez muito obrigado a equipe toda, principalmente Záira e Helder.

Confiram: http://www.aldeianago.com.br/content/view/4303/3/

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Convite divertidíssimo para a estréia



Convite divertidíssimo para a estréia do espetáculo. Enfim, chegou o dia!!!

VAMOS PARIRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

Cartografias da luz

Mil Anos Luz
Por Milianie Matos

Desobscurecer... Descortinar... Decadência dos raios solares, experenciações corporais provocativas, ações performativas, co-autorismo, ambiência interativa, desejos e rastros, reticências

“O Sol nasce para todos”, pode ser a qualquer momento, assim como se põe. No descompasso ritmado da vida a Noite chega e vai embora seja dia ou noite. Como é o brilho do seu Sol? O que se quer trazer à luz? O que você deseja ver?

Foto Diane Portella


Foto de Alessandra Nohvais

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Avani, índia Fulni-ô - Entrevista



Entrevistei Avani também no Encontro da Diversidade Cultural, promovido pelo MINC em Setembro deste ano. Lá tivemos contato com pessoas de várias culturas, diversas experiências e estilos de vida. Quando vi o grupo dos indígenas, fiquei louco para entrevistá-los. Sempre tive uma relação forte com a cultura indígena e sua forma de viver, mais tarde, um pouco mais consciente, me perturbei com a dizimação que sofreram, com o desrespeito ao seu território, a suas vidas.

Como n'O Corpo Perturbador estamos falando muito sobre Corpo/Território, deixei para a semana de estréia a entrevista com Avani, que fala também sofre o preconceito sofrido pelos não-aldeados, dentro da própria comunidade e de como o branco ainda os perturbam.

Encontrei uma reportagem que fala justamente sobre este assunto e onde Avani é um dos personagens da matéria:



ÍNDIOS: cidades ainda não reconhecem direitos indígenas e falta acesso a serviços e ao trabalho
Rodrigo Salles

Mesmo com órgãos governamentais e leis que os protegem, os indígenas têm enormes dificuldades para viver no meio urbano. A entrada no mercado de trabalho e o acesso a serviços públicos essenciais oferecem diversos obstáculos a essas pessoas. "Indígenas são tratados como seres inexistentes nas cidades paulistas", revela Marcos Aguiar, coordenador há 12 anos do projeto "Índios da Cidade", da ONG Opção Brasil.

De acordo com a entidade, existem cerca de 90 mil indígenas, das mais variadas etnias, vivendo em áreas urbanas no Estado de São Paulo, 4 mil somente na macrorregião de Campinas. A maior concentração está na região metropolitana da Capital, com cerca de 60 mil.

Outro dado relevante e pouco conhecido são as 37 aldeias indígenas localizadas dentro de São Paulo. É o maior contingente de indígenas do país, perdendo apenas para o Amazonas.

"O preconceito contra o índio é maior do que com os negros. Muitos têm que esconder sua origem para conseguir emprego, porque os índios tem prerrogativas diferentes dos demais trabalhadores, e os patrões fazem cara feia", conta João Dias Gama, pertencente à etnia Caimbé, representada por 120 famílias nas cidades paulistas.

Avani Florentino, do povo Fulni-ô, critica a mentalidade vigente que dita que lugar de índio é na aldeia. "Somos tratados como incapazes de dirigir nossos próprios destinos, ter autonomia. Nas aldeias ainda são proibidas bebidas alcoólicas. Queremos preservar nossa cultura, mas também precisamos de cidadania plena", declara.

A pedagoga e pesquisadora Chirley Maria de Souza Almeida Santos, da etnia Pankará, afirma que o ensino oficial, além de não reconhecer a diversidade cultural indígena, não tem nem mesmo dados de quantas crianças dessas etnias estudam na rede pública. "Não existe sequer um levantamento da demanda educacional desses estudantes. Não se ensina a diferença entre as centenas de povos indígenas que vivem no país."

Aguiar explica que a falta de políticas públicas para os indígenas que vivem em centros urbanos vem desde erros de conceituação. "Usam-se ainda termos como desaldeiados ou urbanos para os índios que moram em cidade. Isso infere que eles não estão no seu lugar, que não podem pertencer à sociedade dos homens brancos", conclui.

Fonte: http://jornalcidade.uol.com.br/rioclaro/intervalo/intervalo/64124-iNDIOS:-cidades-ainda-nao-reconhecem-direitos-indigenas-e-falta-acesso-a-servicos-e-ao-trabalho



Aqui, resolvi copiar um pouco da história dos Índios Fulni-ô

Os índios da tribo Fulni-ô vivem no município de Águas Belas, em Pernambuco numa aldeia de 11.500 hectares, localizada a 500 metros da sede da cidade. Sua população é de aproximadamente 3.600 índios.

Eram conhecidos, antigamente, como Carijó ou Carnijó e não se conhece o tempo da sua existência.

A origem do nome Fulni-ô é muito antiga. Significa "povo da beira do rio" e está relacionada com o rio Fulni-ô que corre ao longo da aldeia de Águas Belas.

Os índios têm convívio diário com os não-índios, são todos bilíngües, se vestem como os brancos, mas não perderam sua identidade. São os únicos indígenas do Nordeste brasileiro que mantêm viva a sua língua nativa a Yaathe (ou Yathê).

Além da aldeia a comunidade possui na reserva um outro local de moradia, onde habitam durante três meses por ano por ocasião dos rituais do Ouricuri.

O Ouricuri é um retiro religioso secreto, realizado anualmente nos meses de setembro, outubro e novembro. O que ocorre no Ouricuri é um mistério. Nem mesmo as crianças revelam o que se passa no evento. Sabe-se que durante esse período os homens dormem em local reservado, o Juazeiro Sagrado, ao qual as mulheres não podem ter acesso. As rivalidades são esquecidas. As relações sexuais e a ingestão de bebidas alcóolicas são rigorosamente proibidas.

Até os anos trinta, as casas dos Fulni-ô eram construídas, exclusivamente, com a palha do ouricuri (planta da família das palmeiras). Hoje, a aldeia é composta por habitações individuais de taipa ou alvenaria, semelhantes às das populações pobres do Nordeste brasileiro.

Os índios vivem do artesanato da palha do ouricuri, comercializado nas feiras livres da região, da agricultura de subsistência e de alguma criação de bovinos e suínos. Ainda praticam a caça e a pesca, mas essas atividades estão quase em extinção, devido aos desmatamentos e à poluição dos rios da região.

Suas manifestações culturais incluem a dança e a música. As danças dos Fulni-ô são inspiradas em vários animais e aves, sendo o toré a mais tradicional. Existem também a cafurna, uma dança cultural resultante da influência de outros grupos e uma conhecida como coco de roda, dançada com estilo próprio e que tem origem na cultura dos negros. As músicas das danças são cantadas em português e yaathe.

Usam como instrumentos musicais, o maracá, o toré e a flauta. Tocam também instrumentos dos brancos como clarinete, pistom, trombone, violão, guitarra. Possuem até conjuntos e bandas formadas.

Os Fulni-ô utilizam para curar doenças muitas plantas que sobreviveram ao desmatamento. Possuem um Centro Fitoterápico de Reprodução de Mudas e Essências Medicinais, mantido com o apoio da Fundação Nacional da Saúde e da Unesco, onde são cultivadas várias plantas que servem como remédios populares distribuídos na aldeia.

Fonte: GASPAR, Lúcia. Índios Fulni-ô. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/ . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

A moldura

Por Nei Lima



Qual a imagem desse corpo que perturba pela sua forma e sinuosidade contrastantes com o porte e contorno “elegantes” da modernidade? Ao invés de se submeter à correção da saúde, de se solidificar e endurecer, alia-se ao movimento solto, agita-se, enlarguece a linha da coluna para os lados, enfraquece-se e fortalece-se numa relação ambígua e à disposição do risco permanente entre o chão de relevos e as estruturas aéreas.

A imagem desse corpo se constrói pela bifurcação, a gola vitoriana revela duas dimensões do corpo, hierarquizando-o. As partes altas, “cabeças”, representam o pensamento, a racionalidade, o sagrado e o tronco representa o impulso, o profano, o humano e a sexualidade. Mais do que isso o figurino emoldura a coluna que é o fio condutor da história desse corpo. Corpo solto a revelia e a toda sorte de obstáculos, como um bicho a digladiar no território da instabilidade.
Fotos de Igor Souza

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Aco(r)de, Corpo!

Foto de Alessandra Nohvais


E agora…nua, sentada no banco da cozinha, cheiro de lavanda, coluna torta para a esquerda, último comprimido de Valeriana tomado, escutando uma seleção de Jazz que fiz agora há pouco, depois de um dia atípico de arrumação intensa da hora que acordei até agora sem pausa que não seja para comer, eu me pergunto:
O que me perturba no Corpo Perturbador?
Será que vou acordar meses depois da estréia vomitando tudo que vivi?
De súbito tudo virá a tona?
Como pode esse filho recém-nascido tocar na minha imensidão íntima desse jeito?
Mas é um toque pra baixo, profundo.
“Mergulha…” – me diz entre dentes.
E também me diz aos berros.
E me diz numa língua que nem sei…
e me diz aos saltos e chicoteios.
Me diz do alto e também ao rastejar.
E me grita se batendo em seus próprios limites.
Me intimida com olhares que vagam dias na minha imaginação…
E que me deixa com medo, pavor, alegria, tesão, ansiedade, alívio, paz, loucura, contentamento, devaneios, euforia, euforia e euforia  mais três vezes, e me faz SENTIR.

Eu sei que eu sinto, mas…

Me aco(r)de, Corpo!

(Diane Portella)


domingo, 5 de dezembro de 2010

Várias Camadas

Sexta-feira fizemos o Papo Perturbador e um ensaio aberto, recebemos visitas que para mim são muito importantes pela pesquisa em Dança que fazem e por serem artistas que admiro muito: Lucas Valentim, Barbara Santos, Liria Morais, Fafá Daltro, tivemos também Alessandra Nohvais, Drica Rocha, Natália Valério, Catarina Gramacho, nossa produtora que viu pela primeira vez O Corpo e Lorena Aragão. O papo foi muito produtivo e do jeito que eu queria e que considerava importante para esta alltura do processo. Depois de fechado o "roteiro" do espetáculo e eu saber exatamente o que pretendo em cada cena, foi muito bom ouvir as impressões e as sensações de cada pessoa que estava ali. Percebi que consegui falar como eu queria realmente falar e o melhor são as variadas visões sobre O Corpo Perturbador.

Publicarei aqui a impressão de Lorena Aragão, uma amiga, psicóloga que fez uma análise interessantíssima sobre a obra e me trouxe pontos novos para olhar. Durante todo o processo de trabalho eu não criei uma história, não fiz uma roteizização como em Judite e também como em Odete, trabalhamos exercícioscorporais e juntamos as peças que acabaram formando um quebra-cabeça e contextualizando-se por si só. Daí a importância (para mim) de ouvir as inúmeras leituras, porque é um espetáculo com "várias camadas" como disse Liria e inúmeras viagens. Escutei com muita atenção tudo que foi falado e me admirei como o trabalho cresceu com os olhares que chegaram ali naquela sexta-feira. Na quinta David Iannitelli já tinha dado mais uma grande contribuição.

Como não tenho registros escritos das falas de quem nos visitou, resolvi publicar o texto qde Lorena Aragão que me enviou um email com suas impressões sobre o que assistiu e encaminhou com cópia para Cléa que foi a amiga, junto com Fafá, que me ajudou a escrever o projeto. Ela por sua vez, lá de longe, em São Paulo, escreveu suas impressões a partir da escrita de Lorena. Fiquei encantado com o que li e pedi permissão para publicar aqui.

"Amado, era pra eu ter escrito logo depois porque, confesso, algumas impressões ja foram perdidas, mas vou tentar aqui retomar alguma coisa.



Minha mente subjetiva de psicóloga viajou nas sensações. E não foram poucas. As pernas de animal, me remeteram ao minotauro de Monteiro Lobato... imaginei o labirinto, me senti numa fábula... fiquei torcendo pro minotauro nao alcançar a presa.rsrs. Na verdade eu vi a peça toda como uma referência aos relacionamentos amorosos. Porque eu via o tempo todo os conflitos relacionais. Aquela coisa erótica, aliás é puro erotismo a peça...a luta eu achei super erótica. A respiraçao cansada de depois do sexo, depois da luta, foi fantástico. A guerra do amor! rsrs. O que me parecia eram duas pessoas que de tao iguais, tão complementos de si, em algum momento se estranharam. Parecia ser uma relaçao perfeita, que de tão perfeita, os dois procuravam problemas. Um começou a querer desafiar o outro, enfrentar. Aquela parte das pernas, eu via muito isso. Tipo, a gente ta junto, mas vai ser do meu jeito. Parecia um dialogo: "Eu quero que seja assim" e o outro: "Eu quero que seja assado". Na hora que vc fica se debatendo nas cordas sozinho e que Meia vai pro outro lado, eu senti um abandono, uma cólera terrivel em ser deixada. Aquela hora deu uma fisgada no meu coraçao. Uma dor de abandono. E o final, cada um vai procurar sua luz. Se iluminar à sua maneira, mesmo que de longe, ainda continuem se vendo."

Lorena Aragão (http://querendofalar.blogspot.com/)

Lorena, eu e Cléa num desses encontros inesquecíveis

"Creio que seja impossível, num processo de criação artística, não se colocar inteiro. Corpo e alma. Sensações, emoções, vibrações, desejos, memórias do que se viveu e do que ainda há de vir. Toda obra artística, para mim, é de alguma maneira autobiográfica, principalmente quando criada por gente passional como nós.


Pelo relato de Lorena., imagino que o Corpo tenha tomado forma de acordo com o seu momento na ocasião da concepção do espetáculo. Mesmo que assim não fosse, inevitavelmente você iria fundo nas questões emocionais, porque você é todo emoção. Dedo na ferida. Sempre. Mergulho no poço escuro e fundo de nós mesmos. Revelar o que negamos, o que desconhecemos. Mexer, perturbar, tirar do eixo, desestabilizar. Você é provocador por natureza. Já nasceu assim. Vai morrer assim!

Me vi inteira no espetáculo. Vi minha vida retratada de maneira metafórica. Eu e a minha luta diária, não com o outro, mas comigo mesma. Emoção e razão disputando seu lugar dentro de mim. Eu e eu disputando espaço. Caminhando no desconhecido labirinto das emoções vagas e difusas. Mas também vi o "me reconhecer no outro" e me pertubar com isso. "Porque o inferno são os outros." E quando a gente se vê no outro de uma maneira que não nos agrada, e é obrigado a perceber que o outro também somos nós... isso perturba, enfraquece, desestabiliza. É como estar diante de uma esfinge, que te diz: -Decifra-me E te devoro! E ninguém quer ser devorado... então ficamos perambulando por estradas escuras onde não se sabe quem somos e nem pra onde vamos.

Tive vontade de chorar lendo o que Lorena escrevera. Nesse meu "momento" meio louco, já pertubada por emoções (des)conhecidas, foi desconcertante (assim como rever um grande amor rsrsrs...) "assistir" ao Corpo. Aumentou o meu desejo de ver essa criança nascer... eu, que de algum modo, ajudei a concebê-la. Mas a vontade de chorar também é de orgulho de ser tua... que torna o mundo mais bonito com sua poesia erótica e visceral. Você que torna tudo mais... quando se mostra ao mundo assim escancarado, verdadeiro, pura essência. És essencial pra mim.

Ah... o teu olhar melhora o meu."

Cléa Ferreira (http://epifaniasealumbramentos.blogspot.com/)