quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Uma visita especial

Foto de Diane Portella
Foto de Edu O.

A casa hoje está toda arrumada e feliz com a visita dele. Minha vida é toda feliz com sua presença. Clênio foi o primeiro a me dizer que eu dançava e David o que mais incentivou e estimulou nessa caminhada da Dança. Sempre me dizia que eu deveria coreografar e eu nunca levava a sério me sentindo incapaz. Hoje estou no meu terceiro projeto coreográfico, com sua presença constante, mesmo quando ele não sabe que está aqui.

A dança de David é a mais bela que já vi. Adoro dançar com ele. Tenho frequentado suas aulas para me abastecer de sabedoria e grandeza e poder trazer alguma coisa pro processo do Corpo Perturbador. Hoeje ele irá nos visitar e eu estou termendo de alegria e nervosismo.

Aqui quero fazer uma homenagem a essa pessoa que eu considero meu guru. David Iannitelli. Meu amor para sempre.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dos que desprezam o corpo

ASSIM FALOU ZARATUSTRA
Friedrich Nietzsche

Dos que desprezam o corpo

Aos que desprezam o corpo quero dar o meu parecer. O que devem fazer não é mudar de preceito, mas simplesmente despedirem-se do seu próprio corpo e, por conseguinte, ficarem mudos.
“Eu sou corpo e alma”- assim fala a criança. – E por que se não há de falar como as crianças?
Entretanto o que está desperto e atento diz: - “Tudo é corpo e nada mais; a alma é apenas nome de qualquer coisa do corpo”.
O corpo é um razão em ponto grande, uma multiplicidade com um só sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e um pastor.
Instrumento do teu corpo é também a tua razão pequena, a que chamas espírito: um instrumentozinho e um pequeno brinquedo da tua razão grande.
Tu dizes: - “Eu e orgulhas-te dessa palavra. No entanto, maior – coisa que tu não queres crer – é o teu corpo e a tua razão grande. Ele não diz Eu, mas: procede como Eu.
O que os sentidos apreciam, o que o espírito conhece, nunca em si tem seu fim; mas os sentidos e o espírito quereriam convencer-te de que são fim de tudo; tão soberbos são.
Os sentidos e o espírito são instrumentos e joguetes; por detrás deles se encontra o nosso próprio ser. Ele examina com os olhos dos sentidos e escuta com os olhos do espírito.
Sempre escuta a esquadrinha o próprio ser: combina, submete, conquista e destrói. Reina, e é também soberano do Eu.
Por detrás dos teus pensamentos e sentimentos, meu irmão, há um senhor mais poderoso, um guia desconhecido. Chama-se “eu sou”. Havia no teu corpo; é o teu corpo. Há mais razão no teu corpo do que na tua melhor sabedoria. E quem sabe para que necessitará o teu corpo precisamente da tua melhor sabedoria?
O próprio ser se ri do teu Eu e dos seus saltos arrogantes. Que significam para mim esses saltos e vôos do pensamento? – diz.
Um rodeio para meu fim. Eu sou guia do Eu e o inspirador de suas idéias.
O nosso próprio ser diz ao Eu: “Experimenta dores! E padece e medita em não padecer mais; e para isso deve pensar. O nosso próprio ser diz ao Eu: “Experimenta alegrias!”Regozija-se então e pensa em continuar e regozijar-se freqüentemente; e para isso deve pensar.
Quero dizer uma coisa aos que desprezam o corpo: desprezo aquilo a que devem a as estima.
Quem criou a estima e o menosprezo e o valor e a vontade?
O próprio ser criador criou a sua estima e o seu menosprezo, criou sua alegria e sua dor. O corpo criador criou a si mesmo o espírito como emanação da sua vontade.
Desprezadores do corpo: até na vossa loucura e no vosso desdém sereis o vosso próprio ser.
Eu vos digo: o vosso próprio ser quer morrer e se afasta da vida.
Não pode fazer o que mais desejaria: criar superando-se a si mesmo.
É isso o que ele mais deseja: é esta a sua paixão toda.
É, porém, tarde demais para isso: por isso até o vosso próprio ser quer desaparecer, desprezadores do corpo.
O vosso próprio ser quer desaparecer: por isso desprezais o corpo! Porque não podeis criar já, superando-vos a vós mesmos. Por isso vos revoltais contra a vida e a terra. No vosso olhar desdenhoso transparece uma inveja inconsciente.
Eu não sigo o vosso caminho, desprezadores do corpo! Vós, para mim, não sois pontes que encaminhem para o Super-homem!”
Assim falou Zaratustra.

Este texto maravilhoso foi um presente do sempre presente e amado Clênio Magalhães para o blog. Excelente. Keu, toda minha gratidão e amor.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os tijolos da construção

Chegando de viagem com tanta coisa acontecendo, inferno astral, despedida, rompimento, tive a alegria de visitar, no espaço da Miniusina de Criação, o primeiro módulo do cenário/instalação do espetáculo. Que alegria ver nossos projetos se concretizando, as idéias se materializando. Daqui a pouco está tudo pronto (nunca está, né) e estreamos. Friozinho na barriga e ansiedade que tudo dê certo dentro das nossas previsões.

Os tijolos da construção começam a levantar.

domingo, 10 de outubro de 2010

Uma canção polonesa e a bomba

Começou com uma visita a um brechó, encontrei um chapéu de cavaleiro, duro, rígido, coloquei na cabeça e me joguei no chão, batendo a cabeça para testar a proteção. Depois chegou uma música polonesa de uma francesa. Virou arte, criação, desejo de comunicar algo que talvez não entendam, mas farão outras conexões. É isso que me interessa quando eu danço.

Artista é foda mesmo! Não pára de trabalhar nem quando está se divertindo, tudo pode virar estímulo, inspiração. Um café, uma música, a tristeza, a euforia, o nada.

Um imenso vôo na imensidão e está ele pensando em como traduzir, como mostrar sua visão dos fatos.

Eu queria muito dizer aqui o que penso, mas tenho receio de guiar o entendimento sobre o trabalho. Este post é para dizer que criei uma cena para O Corpo Perturbador a aprtir de uma coisa aparentemente louca, besta. Estou louco para experimentar logo e ver se dará certo a minha idéia. Venho aqui contar tudinho e mostrar fotos e mostrar videos, depois a gente vê junto no espetáculo mesmo tá?

sábado, 9 de outubro de 2010

Não deu, perdeu muleque!

Pois é
(Marcelo Camelo)

Pois é, não deu

Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Pois é, não deu

Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver (2x)

Pois é, até
Onde o destino não previu
Sei mas atrás vou até onde eu consegui
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar


Foto de Agnés Jaubert

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Complexo de Peter Pan

Lembro que a puberdade foi um momento muito difícil para mim, acho que para qualquer pessoa. Morria de vergonha quando comentavam sobre os pêlos do meu bigode ralo, das axilas, sobre a mudança de voz. A cabeça dava um nó e quanto mais falavam mais eu me retraía e não usava camiseta e tentava controlar o grave da voz, não raspava a cara porque minha mãe dizia que era pior. Uma catástrofe!

A mudança corporal e comportamental, porque agora já não dava mais ser tão infantil, o grupo mudara, os objetos de desejo iam sendo substituidos ao mesmo tempo em que mais pêlos cresciam. Ali desenvolvi o Complexo de Peter Pan, mais por me tornar homem do que por crescer propriamnete. Minhas referências maculinas nunca foram das melhores e eu me recusava a ser homem daquele jeito.

Comecei a fechar a porta do banheiro (lá em casa tínhamos o hábito de fazer tudo com porta aberta), me cobria, escondia meus pêlos pubianos. A deficiência nunca foi motivo de trauma para mim, mas esses sinais de outra fase chegando me atormentaram durante um longo tempo e eu não queria crescer.

Hoje que essas coisas não me azucrinam mais, fico com pena de ter crescido e perdido uma luz que tinha bem lá no fundo. Essa sim foi a pior mudança que me aconteceu.

Encontrei um artigo, achei interessante publicar aqui:

Complexo de Peter Pan
Fonte: http://www.portalespiritualista.org/artigos-revistas/157-complexo-de-peter-pan
Complexo de “Peter Pan” é uma expressão decorrente do personagem Peter Pan, criado pelo escritor James M. Barie, e que consiste numa compulsão em que homens e mulheres desejam manter-se sempre jovens e por essa razão se descuidam do papel adulto ou das responsabilidades, sem assumi-las, ou por sentir ou encontrar dificuldades ou por não as valorizarem como deveriam.

As causas do complexo de Peter Pan são advindas, no geral, da falta do autoconhecimento, que permite avaliar e dimensionar as potencialidades psicoemocionais e a realidade ou circunstâncias da vida. As pessoas imaturas nem sempre aceitam os compromissos e deveres destinados ao seu aprimoramento como ser humano. Reagem aos deveres, negando a realidade imposta pelo movimento cíclico do amadurecimento físico.

Como não se pode evitar o crescimento inexorável, desejam permanecer no estágio infanto-juvenil e negam as exigências naturais da vida. Essa fuga pode também representar uma desordem ou um desajuste psíquico decorrente do tipo de lar, dos fatores educacionais, profissionais, afetivos, materiais, morais, intelectuais, emocionais, religiosos e fisiológicos. No entanto, todos esses fatores têm uma causa única: a falta de desenvolvimento do senso moral, que propicia a superação de obstáculos íntimos ou externos.

Quem busca o rejuvenescimento físico através de cirurgias plásticas nem sempre tem complexo de Peter Pan, mas é possível que as constantes e desnecessárias cirurgias plásticas estejam associadas ao complexo de Peter Pan.

A insatisfação ou a apatia profissional, em certos casos, pode se constituir em causa ou efeito do complexo de Peter Pan. Saber escolher e adaptar-se a certas atividades e deveres do trabalho profissional também faz parte da necessidade do autoconhecimento. Identificar-se com o trabalho que realiza é condição imprescindível para o equilíbrio psicoemocional e moral do ser humano. Há muitos desastres morais, neuroses, psicoses e complexos resultantes da falta de uma atividade profissional que se ajuste às necessidades psicológicas, emocionais e individuais da pessoa.

A superproteção dos pais pode causar nos filhos o complexo de Peter Pan, dependendo da estrutura da personalidade dos filhos e de suas reações a certas atitudes censuráveis dos pais. Impedir ou inibir a expressão da individualidade de filhos ou educandos é promover a falta de iniciativa, a ociosidade, a indiferença e o personalismo.

Uma vida social muito direcionada a festas e recreações pode se constituir numa manifestação do complexo de Peter Pan, nos casos em que homens e mulheres, mesmo após o casamento, comportam-se como se não existissem as responsabilidades ligadas à vida matrimonial. Assumem posturas mais voltadas às diversões, festas e outros prazeres recreativos e sociais que aos deveres e responsabilidades que lhe cabem realizar, destinados ao equilíbrio e ao aperfeiçoamento da personalidade.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cadeira de Rodas - Fernando Mendes



Por indicação de minha amiga Carol Teixeira que me lembrou desta pérola da música popular brasileira, inesquecível, cantada por Fernando Mendes e talvez seja o primeiro registro musical sobre um devotee. Eu confesso que eu tinha pensado utilizar esta música num outro trabalho chamado Malu Glamour, projeto para cinema e performance em boates, mas não para O Corpo Perturbador, não lembrei de colocar aqui no blog. Agradeço a Carol por esta lembrança e aqui faço minha homenagem para esta def ESCÂNDALA!

Vocês podem acompanhar o vídeo cantando e lendo a letra abaixo. Divirtam-se ou chorem!

Cadeira de Rodas

Composição: Fernando Mendes / José Wilson / Edir
Sentada na porta,


Em sua cadeira-de-rodas ficava.
Seus olhos tão lindos,
Sem ter alegria,
Tão triste chorava.

Mas quando eu passava
A sua tristeza chegava ao fim.
Sua boca pequena,
No mesmo instante,
Sorria pra mim.

Aquela menina era a felicidade
Que eu tanto esperei,
Mas não tive coragem e não lhe falei
Do meu grande amor e agora,
Por onde ela anda, eu não sei.

Hoje eu vivo sofrendo e sem alegria.
Não tive coragem bastante pra me decidir.
Aquela menina em sua cadeira-de-rodas
Tudo eu daria pra ver novamente sorrir.

domingo, 3 de outubro de 2010

O cardume




Foto de Edu O. dos peixes criados por Fabienne Frossard para o cenário do Euphorico 2010


Há um momento, pequeno momento, em que a carne sangra a faca que lacrimeja o sal. A sensação de solidão, de abandono e a sombra do outro escurece o dia, as vistas. O desejo se dissipa, as alegrias se vão e resta aquele ranso na boca de peixe mal tratado, de lágrima no fundo do mar.

Precisamos entender que somos sós no meio desse cardume.